sábado, 23 de novembro de 2024

Puxadinhos emergentes

O desafio de idas e vindas de uma cidade que cresce diante da especulação imobiliária

25 de julho de 2023

Victor e Expedito têm uma rotina praticamente igual a milhares de teresinenses. Acordam cedo e vão para a labuta diária, reclamam dos problemas de transporte, da gestão pública, do calor e aproveitam a noite mafrense. No entanto, na hora de se recolher, os seus destinos finais são mais “longos”, pois moram em outra cidade. Ou melhor, em algo que podemos chamar de “puxadinho” de uma grande metrópole, como é o caso de Altos e Timon, que tiveram um crescimento populacional acelerado nos últimos 10 anos devido à alta dos preços de imóveis na capital e que “expulsou” muitos teresinenses da cidade.

De acordo com o Censo Populacional 2022 do IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-, Teresina segue com a maior população do Piauí, com 866 mil habitantes, sendo a 19ª cidade mais populosa do Brasil. Nos últimos 12 anos, a capital piauiense teve um aumento de 6,4%, um percentual considerado pequeno comparado com outras cidades como Parnaíba, a segunda mais populosa do estado, que em 2010 tinha uma população de 145.729 e hoje conta com 162.159 pessoas, um aumento de 11,2%.

Os dados do último Censo demográfico apontam ainda para um indicativo que o teresinense já sentia na prática, com uma parte de pessoas do seu ciclo que mora na zona metropolitana da cidade. Altos, por exemplo, dentre mais populosas do Piauí, foi a que apareceu na pesquisa com maior aumento de população nos últimos 12 anos, com 22,14%, sendo a sétima mais populosa com 47.416 habitantes. Da mesma forma aconteceu com a cidade de Timon, que em 2010 contava com 155.460 habitantes e hoje registrou 174.465 pessoas no Censo de 2022, um aumento de 12,4%, sendo a 4ª maior cidade do Maranhão.

Essas duas cidades têm um fator em comum: ambas ficam na zona metropolitana de Teresina. Altos fica localizada a 41 km e Timon a uma ponte de distância do centro da capital piauiense, o que fortalece a existência de um processo chamado de “migração pendular”, caracterizada pelo deslocamento diário de pessoas para estudar ou trabalhar em outra cidade e, após realizarem tais atividades, retornam para onde residem.

O corretor de imóveis Henrique Vilarins explica que esse fenômeno pode ter sido impulsionado pela grande inflação que o Brasil enfrentou ao longo dos anos e que é base para correção do preço de qualquer produto. “Precisamos analisar um fator primordial que movimenta o comércio no mundo todo: demanda X oferta. Teresina é uma cidade de porte médio, se comparado a outras capitais do Nordeste como Fortaleza, Recife ou até mesmo a nossa vizinha São Luís, e que sempre teve uma alta demanda para novos empreendimentos e poucas ofertas”, explica.

Para o corretor, a inflação contribuiu para a alta nos preços do metro quadrado em Teresina

Para o corretor, o mercado imobiliário na capital também foi um fator determinante para o “afastamento” de novos moradores, que buscaram opções mais baratas sem deixar a rotina na capital. “A proximidade das duas cidades com Teresina. Timon é praticamente um bairro de Teresina e Altos fica apenas 41 km de distância, e o valor do metro quadrado dos imóveis abaixo do praticado em Teresina favorece para que algumas pessoas prefiram morar nessas cidades”, detalha Henrique.

O estudante universitário Victor Mascarenhas é um dos moradores de Timon que foi influenciado pela alta no preço do metro quadrado na capital no momento da escolha de onde morar. Ele lembra que quando foi procurar imóvel, há cerca de oito anos, chegou a analisar alguns apartamentos, mas nenhum chega perto do que ele analisa como a sua melhor escolha. “Antes de comprar casa em Timon eu quase fechei a compra de imóvel no Renascença (zona Sul de Teresina). Lá, o apartamento era de 48 m² e custava R$124 mil na época, além de pagar condomínio e essas coisas. A casa que comprei em Timon foi R$ 130 mil e tem a área de 210 m², sendo 96 m² de área construída. A casa tem área livre, garagem e corredores. Na minha rua, que é de becos, se reuniram e colocaram até um portão com controle e tudo. É quase um condomínio fechado. Não tem nem como comparar”, explica.

Apesar de morar em Timon, o estudante conta que boa parte das suas relações estão concentradas em Teresina e que alguns dias só vai para casa para dormir. “Eu mesmo, quando tenho coisas pra fazer em Teresina de manhã e à tarde, não volto pra Timon. Prefiro gastar com almoço em Teresina e ficar do que voltar, porque o trânsito, especialmente nos horários de pico, é ruim! Já passei 40 minutos pra sair de casa e passar a Ponte Metálica. Detalhe: da minha casa pra Ponte Metálica são apenas 5 quilômetros”, detalha Victor. 

Além de Victor, milhares de pessoas também contam com essa rotina, como é o caso do autônomo Expedito Júnior, que sempre morou em Altos e já até cogitou comprar imóvel em Teresina, mas desistiu. Para ele, o que contou no momento da sondagem foi o valor, que não se compara ao dos imóveis na sua cidade, bem como o custo de vida na capital, que é bem maior. “Mesmo com o trajeto diário se torna mais em conta. Isso sem falar na segurança e locomoção. As áreas melhores de Teresina são mais caras”, detalha. Onlayn kazino siyahısı Azərbaycan Azərbaycanın ən yaxşı onlayn kazinolarının siyahısı Mən bu onlayn kazinoları tövsiyə edirəm

Para Expedito, a moradia é em Altos, mas o lazer é em Teresina

Apesar da escolha do local para morar não ser na capital, ambos assumem que suas vidas sociais são centradas em Teresina, que possui mais opções de lazer, de trabalho e estudo. “Altos só saio geralmente pra comer algo rápido”, acrescenta Expedito. 

E há quem pense que essa debandada de pessoas para as cidades próximas poderia criar uma cidade fantasma ou afetar o mercado imobiliário em Teresina. Muito longe disso, as vendas hoje seguem aquecidas, principalmente de médio e alto padrão. “Existem empreendimentos em Teresina, nesse nicho de médio e alto padrão, que foram lançados recentemente, são empreendimentos que estão sendo vendidos “na planta”, que já foram vendidas quase todas as unidades antes mesmo da entrega do empreendimento. Com o retorno do Minha Casa Minha Vida, o mercado também está otimista com esse nicho, até mesmo porque existe uma mudança no aumento do preço dos imóveis que poderão ser financiados pelo programa e assim irá beneficiar pessoas que buscam imóveis com padrão um pouco melhor”, explica o corretor Henrique Vilarins.

Segundo dados da ABRAINC- Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias-, as vendas de imóveis em 2022 superaram o número de lançamentos, o que tem gerado otimismo em um mercado que envolve tanto a comercialização como a construção, gerando empregos. “Com isso criou uma demanda reprimida para novos lançamentos. As expectativas do mercado são que os números de vendas de 2023 se igualem ou até mesmo superem o de 2022. Com relação aos aluguéis, nos pós pandemia as pessoas têm procurado imóveis mais bem localizados, mesmo que com uma metragem menor, e que sejam em regiões com fácil acesso a serviços, polos de emprego, centros de ensino (escolas e centros universitários), e com isso, houve uma valorização do valor do aluguel nos últimos 2 anos”, finaliza.

sábado, 23 de novembro de 2024

Diego Iglesias

Jornalista, mestre em comunicação pela Universidade Federal do Piauí.

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