“Se eu demorar a responder é porque tô jogando, tá?”. A fala é de Ramon Araújo, 25, estudante e gamer. Ele prefere ser chamado de “Kolesne” e compõe os 72% da população que jogam algum tipo de jogo eletrônico, segundo a Pesquisa Game Brasil (PGB) em 2021.
Kolesne começou a jogar videogame no tempo em que os jogos eram disponibilizados em locadoras – com o preço muitas vezes inacessível dos equipamentos, os jogadores pagavam por hora para usar as máquinas disponíveis nesses ambientes. Na rua onde morava, dois espaços assim dividiam sua atenção. “Naquela época tinha uma locadora de jogo em cada esquina, do mesmo jeito que tinha locadora de filme”, disse o jovem, que dedicou muitas e muitas horas na busca por novos jogos.
“Hoje eu joguei umas seis horas, mas tem dias que acabo não jogando”, confessou. “Quando tem o lançamento de algum jogo que gosto bastante passo de 8 a 10 horas por dia, ou até mais”, diz, entregando que já completou mais de 24 horas na frente de um console.
Na pesquisa feita pela PGB, 75,8% dos gamers dizem que o tempo gasto jogando cresceu durante a pandemia. “Como eu não tô saindo de casa, jogo muito, muito mesmo”, diz Kolesne. A pesquisa também afirma que o contexto de isolamento social fez com que mais da metade das pessoas (51,5%) jogassem online em partidas com amigos.
O estudo também identificou a classe e idades de jogadores e jogadoras. No Brasil, a classe média-alta corresponde a 27,6%, e as classes sociais mais baixas, como C, D e E, chegam a 49,7%. No que diz respeito à idade, 22,5% estão entre 20 a 24 anos. Apenas 18,6% têm idades entre 24 e 29 anos.
Haru é a persona de Juliana Oliveira, 24, no mundo dos games. Ela também faz cosplay e, até o ano passado, conviveu com uma locadora que seu pai mantinha para empréstimo de jogos. Foi neste espaço que ela cresceu e aprendeu a jogar, de Nintendo a jogos de computador. Atualmente ela se divide entre o home office e as partidas, chegando a 6 horas de jogo em dias mais livres.
Mulheres gamers
Mesmo ocupando mais da metade do mercado gamer no país (51,5%), mulheres nem sempre são bem-vindas nesse espaço virtual que, assim como a estrutura social, é moldado pelo machismo e pela discriminação. “As mulheres costumam esconder que são mulheres, principalmente em jogos grandes”, comenta Haru. “Muitas vezes somos ofendidas dentro da área de jogos. Quando os caras percebem que estão jogando com mulher, começam a xingar e a mandar lavar louça”, diz a jogadora.
Foi esse preconceito que a fez escolher um nickname de gênero neutro, prática comum entre as mulheres que jogam. Para evitar o desconforto das ofensas, Haru costuma se privar de algumas coisas: “Dificilmente entro em chamadas de jogos com desconhecidos da partida que é gerada”, comenta. “Nunca aconteceu comigo, mas conheço muitas meninas que já foram verbalmente atacadas”.
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