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2021: Jovens recém-formados têm dificuldade de encontrar emprego

No Piauí, apenas 10% das pessoas contratadas no primeiro trimestre do ano possuem diploma de ensino superior

22 de junho de 2021

Mais de sete mil pessoas foram contratadas no Piauí no primeiro trimestre de 2021. Dessas, 61% foram jovens de 18 a 24 anos, saldo positivo contabilizado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Entretanto, apesar do aumento geral, apenas 705 pessoas com ensino superior foram contratadas desde janeiro no estado.

Essa estatística revela dificuldade do mercado de trabalho em admitir profissionais recém-formados, que segue uma realidade nacional. Segundo dados do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), que leva em conta jovens de 18 a 24 anos que se formaram em 2019 e 2020, houve uma redução de 44,96% da quantidade de pessoas empregadas na sua área de formação até um trimestre após o recebimento do diploma. A pesquisa aponta ainda que, até dois anos atrás, 27,02% dos brasileiros conseguiram entrar nas suas respectivas áreas de formação em menos de três meses – hoje, somente 14,87% atingiram esse feito. Dos entrevistados, 52,12% afirmaram não estar trabalhando, enquanto 27,85% estão desempregados há mais de um ano. 

Essa dificuldade é sentida na pele por Lucas Viana, 25 anos, bacharel em Direito. Formado em março deste ano, ele está procurando emprego na sua área de formação e também em outras áreas que exijam, pelo menos, o ensino médio, desde a sua colação. Ao pensar na situação, lamenta: “Dá um desânimo. Eu voltei a ser sustentado pelos avós aposentados, mas a situação financeira não está boa”, comenta. Para tentar conseguir alguma oportunidade, o jovem  fez um post em uma rede social contando que precisava de emprego. A postagem foi visualizada por mais de 126 mil pessoas e lhe rendeu algumas propostas. “Enviei currículos nos e-mails apresentados e estou aguardando respostas”, conta. 

Para Daniel Carvalho, diretor do Sistema Nacional de Empregos no Piauí (SINE-PI), a dificuldade na contratação de grupos mais jovens se deve à resistência do mercado de trabalho em contratar pessoas que necessitam de treinamento e confirma que essa realidade é pior no interior do Estado. “No interior, a nossa força maior ainda é o seguro-desemprego”, pontua. No Piauí, foram mais de dois mil seguros-desemprego habilitados só no mês de maio deste ano. 

A falta de oportunidades é uma realidade para a psicóloga Wendy Amorim, 26 anos, que mora em Parnaíba. Formada há dois meses, a jovem conta que nunca conseguiu qualquer emprego remunerado na área, mesmo durante a graduação. “Preciso fazer com que meu curso me dê sustento mas, durante a pandemia e toda a crise que vivemos no país, não tenho muitas expectativas”, lamenta. Para obter alguma renda, Wendy trabalha com maquiagem e produção de moda e conta com a ajuda de sua mãe. “Acabei de ser aprovada no mestrado em psicologia e espero conseguir bolsa para me sustentar durante os estudos”, conta, com expectativa.

Apesar de serem maioria na população em idade de trabalhar, as mulheres são minoria entre as pessoas ocupadas (43,3%). No primeiro trimestre deste ano, a taxa de desocupação foi de 12,2% para os homens e 17,9% para as mulheres. Elas também representavam 54,5% da população que está em busca de emprego, segundo o IBGE.

Emprego x qualificação

Na contramão daqueles que ao se formarem não conseguem entrar no mercado de trabalho no Piauí, especialistas apontam que existem vagas desocupadas por falta de profissionais qualificados nos setores de tecnologia e conhecimento específico. 

Déficit que pode estar relacionado a ensino técnico e superior não alinharem a teoria à prática, como pontua a especialista em gestão de carreiras Lívia Saraiva. “É sempre muito difícil encontrar profissionais com capacidade de liderar equipes e que estejam preparados para ter boa performance em diferentes áreas da empresa”, explica. “E esse caminho de conhecimento não vem da universidade” diz, completando. A consultora recomenda a realização de cursos técnicos e especializações, além da procura por estágios ou residências que proporcionem contato e experiência sobre a dinâmica do mercado de trabalho.

 

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Categorias: Últimas

Aldenora Cavalcante

Jornalista, podcaster e mestra em comunicação pela Universidade do Porto.

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