Uma análise feita pela Fiocruz entre os dias 6 e 12 de junho mostra que quase todos os estados brasileiros estão com níveis de transmissão de Covid-19 extremamente altos. O alerta aparece no novo boletim epidemiológico com dados sobre a segunda semana de junho, divulgado pela fundação.
De acordo com os dados divulgados, o Piauí, outros 22 estados e o Distrito Federal têm pelo menos uma região com transmissão comunitária extremamente alta. Isso mostra que a taxa de transmissão da pandemia segue em nível preocupante em todas as regiões do país.
No mapa da transmissão da Covid-19, uma das microrregiões do Piauí aparece com taxas muito pequenas, com níveis pré-epidemia. Trata-se da região da planície litorânea, que contempla cidades como Parnaíba, Luís Correia, Cocal, Buriti dos Lopes, Cajueiro da Praia e outros municípios.
O pesquisador da Fiocruz, Marcelo Gomes, que é coordenador do InfoGripe, informou que, após a divulgação da análise, a fundação obteve a informação de uma possível subnotificação. “Já estamos cientes de que se trata de um artifício no dado utilizado”, explicou. “Infelizmente, os dados de síndrome respiratória aguda grave em unidades de saúde dessa região estão subnotificados, com represamento de dados”, completou. “Não sabemos se isso está ocorrendo por falta de preenchimento das fichas de notificação ou por dificuldade de inserção desses registros no sistema SIVEP-Gripe (banco de dados nacional para registro de casos de SRAG) por parte das equipes de vigilância das secretarias municipais”, explica.
Em conversa com O Estado do Piauí, o pesquisador em saúde da Universidade Federal do Piauí, professor Emídio Matos, reforça as informações passadas por Marcelo Gomes de que os dados mostrados na análise não refletem a realidade atual vivida na região litorânea do Piauí. “Os municípios da planície litorânea estariam testando menos e notificando menos, por isso aparecem com menor número de casos no sistema de informação”, presumiu. “Mas não podemos afirmar com certeza e penso que essa fragilidade de informações levou a esse cálculo da Fiocruz”, afirmou.
Taxa de ocupação de leitos de UTI na região chega a 80%
Emídio também fez referência à última atualização da SESAPI, do dia 22 de junho: a taxa de ocupação de leitos de UTI no estado estava em 74%, sendo que, na microrregião litorânea, a taxa chega a 80%. Segundo o especialista, os índices apresentaram melhora nos últimos dias mas, ainda assim, não correspondem totalmente à realidade.
“Na segunda-feira (21), o hospital de Parnaíba, que atende a região da planície litorânea, registrou 80% de ocupação em leitos de UTI, o que causa preocupação”, destacou o pesquisador. Além disso, Parnaíba segue sendo a segunda cidade do estado em registro de novos casos e o território vizinho, conhecido como Cocais, também aponta níveis altos de transmissão. “Isso reforça a tese de uma possível subnotificação de casos”, pontua.
O pesquisador também citou o exemplo do município de São João da Canabrava, no Sul do estado, que foi cenário de um surto de Covid-19 na última semana. O painel estadual do coronavírus mostra que a cidade, com pouco mais de 4 mil habitantes, registra 355 casos da doença até o momento, com 5 óbitos e uma taxa de letalidade de 1,41%. “Ficamos sabendo que a cidade de São João da Canabrava teve um surto da doença e foi fechada, mas, olhando para os dados, esse surto não aparece”, observa o professor. “Nos últimos 15 dias constam 29 novos casos da doença, mas os noticiários falam em mais de 80”, analisa. “Houve subnotificação? Inconsistência de dados? Há que se investigar melhor”, finaliza.
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