O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) está com inscrições abertas até 14 de julho de 2021. A prova é um dos principais meios para o acesso ao ensino superior. Há dois anos, com a chegada da pandemia, o principal meio de ingresso no ensino superior do Brasil começou a exercitar duas modalidades de aplicação de prova: física e digital, em locais definidos pelo sistema.
Além da mudança na forma de realização do exame, o contexto acentuou as desigualdades sociais do acesso à educação, que começam desde as condições de preparação para as provas e perpassam os investimentos que o vestibulando precisa realizar para conseguir uma vaga nas universidades.
Segundo censo disponibilizado pelo INEP, 21% da população entre 18 e 24 anos estava no ensino superior em 2019, em um contexto onde 20,7% de jovens da mesma idade não haviam concluído ou frequentando o ensino médio, um paralelo de pouca diferença entre quem chega ao ensino superior e aqueles que não tem esse acesso. Na mesma pesquisa, o Brasil estava com o percentual de jovens no ensino superior em porcentagem abaixo de países vizinhos, como Colômbia e Chile.
Em Teresina, os cursos de pré-vestibular praticam valores que giram entre 200 e 900 reais, com acréscimos de material didático. Tudo pode chegar a um investimento de até R$3.000,00. Os altos custos fazem um recorte entre quem pode ou não bancar os valores e quem faz sacrifícios para conseguir se preparar para as provas.
Para Marina Barros, 24 anos, a aprovação em medicina na Universidade Estadual do Piauí em 2019 só foi possível porque conseguiu bolsa de estudos em uma escola particular que garantiu seus estudos durante o ensino médio e o pré-vestibular. Para isso, mudou-se da cidade de Batalha, com a família, para Teresina. Em uma rotina regrada de estudos, o pré-vestibular ajudou-a a nortear e especificar o que deveria ser estudado. “Sem o pré-vestibular talvez eu fosse demorar bem mais tempo ou teria desistido no meio do caminho. Ele me ajudou a direcionar a aprovação”, comenta.
Jordan Viana, 26, também cursou pré-vestibular antes de cursar medicina. Maranhense, estudou até o 9º ano em Coelho Neto, município do estado, e logo depois veio para Teresina, após concurso de seleção para o ensino médio do Instituto Federal do Piauí – IFPI, onde passou a morar com uma tia e depois com amigos. Como Marina, conseguiu uma bolsa em pré-vestibular e dividia-se entre o ensino médio e o pré-vestibular. Com uma mensalidade de R$580 reais, se pagasse o cursinho não teria possibilidade de conciliar o custo com o restante das despesas ao longo do mês. “O preparatório foi complementar. Ser vestibulando é um dos momentos mais tensos da vida, principalmente pelo fato de que todos depositam as expectativas em você”, comenta.
Para Francisco Clarindo Sousa, 20 anos, o acesso ao ensino superior só foi possível mediante algumas abdicações durante o período em que se preparava. No ensino médio, Claus, como é conhecido pelos amigos, dividia seu dia entre os estudos em uma escola da rede pública e os preparativos para o Enem no turno da noite. O resultado da sua primeira tentativa não foi animador: ele não conseguiu atingir a nota necessária.
Para tentar a aprovação, procurou cursos de pré-vestibular no ano seguinte, em Teresina. Com fonte de renda resumida ao apoio do pai, que trabalha em uma empresa de gesso, e a aposentadoria dos avós, o estudante procurou possibilidades menores de valores, mas mesmo assim teve que vender um celular para pagar o curso. Após duas tentativas, passou para Jornalismo na Universidade Federal do Piauí (UFPI) em 2019.
A economia acontecia até na ida para o pré-vestibular, que ficava em outro bairro. Claus conta que se deslocava de ônibus e fazia suas refeições em um restaurante popular. “Ter passado me ajudou a ter mais autoconfiança nas minhas habilidades. Pra minha família também foi importante. Mas tive que abrir mão de coisas para chegar até aqui”, relembra.
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