É natural que com o passar dos anos as mãos fiquem enrugadinhas, as linhas de expressão se acentuem e caminhar se torne uma atividade mais lenta e difícil. Viver é cíclico e respeita o tempo e os processos biológicos. Entretanto, como já pontuava Albert Camus, “A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço”. Envelhecer não é sinônimo de estagnação, muito menos de fim.
A terceira idade vem mudando de perfil. Os idosos são cada vez mais ativos, conectados e buscam lazer. A população com 60 anos ou mais, representa 15% dos brasileiros – de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este percentual deve ultrapassar o de crianças até 2030.
Perto dos 78 anos de idade, Alice Almeida gosta de viajar, fotografar, cuidar de plantas, ler e, como ela mesmo fala, costuma “criar seu próprio lazer”. Ela diz ver poucos espaços em Teresina para a terceira idade. “Acho que os governantes estão pouco preocupados com essa parcela que a cada dia fica maior”, comenta.
A pandemia também prejudicou as formas de lazer e convívio que, na definição da geriatra Lara Andrade, além de conferir prazer são atividades importantes para que o idoso perpetue o sentido de vida e utilidade. “Não é normal o idoso ficar só parado ou perder o ânimo”, adverte. “A vida é movimento e ela se prorroga a partir da busca de sentido”, diz a médica, acrescentando ainda que, mesmo com a vacinação desta faixa etária, os cuidados para evitar a contaminação por coronavírus devem continuar.
De acordo com a especialista, os espaços direcionados para a terceira idade devem ser pensados com atividades que garantam qualidade de vida, possibilitem o aprendizado e ampliem a convivência. Um exemplo de iniciativa desta maneira em Teresina é o Programa Terceira Idade em Ação (PTIA), da Universidade Federal do Piauí, que oferece atividades de pintura, literatura, esportes, cursos sobre novas tecnologias entre outros – no momento acontecendo tudo de forma virtual. Alice é uma das participantes do programa e adora. “É um espaço de lazer, divertido e com várias atividades”, comenta. “Mesmo de maneira remota não ficamos ociosas”.
Desigualdade na velhice
Apesar da mudança de paradigma, os benefícios e oportunidades não chegam a todos. O estudo desenvolvido em São Paulo, “Iniquidades raciais e envelhecimento: análise da coorte 2010 do Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE)” observa que a discriminação também é um dos fatores que repercute nas condições de saúde na maior idade. O material aponta que idosos negros e pardos tem mais dificuldade no acesso à atividades de saúde, bens e serviços que, somada a desvantagens socioeconômicas, como ingresso no mercado de trabalho mais cedo, impactam negativamente na qualidade de vida da terceira idade.
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