Com as dificuldades impostas pela Covid-19, as marisqueiras de Ilha Grande, a 352km de Teresina, no litoral piauiense, realizaram a instalação de antenas e equipamentos para melhorar a conexão de internet nas casas das mulheres da região. O feito fez com que o grupo descobrisse uma nova forma de venda dos seus produtos. As redes sociais ajudaram as mulheres a criar feiras virtuais para continuar o comércio das marisqueiras.
Inicialmente, a ideia era a instalação de uma torre para poder atrair sinal de internet à comunidade de Ilha Grande. Porém, pelo custo e praticidade, foram instalados pontos de internet elétricos para que todos pudessem compartilhar relatos, oficinas e eventos virtuais. “A gente vende o que dá: marisco, coentro, cebola, feijão, maxixe. E a gente tem muitos apoiadores, viu? Não podemos ficar paradas”, acrescenta Luiza Santos, vice-presidente da Associação de Marisqueiras.
Para a marisqueira Claudilane Silva, foi uma alternativa de continuar em contato com suas companheiras. “Melhorou muito. Não é como antes, mas melhorou. Era algo que a gente precisava para fazer a associação continuar caminhando”, diz.
Região é afetada por aparecimento de petróleo
Os problemas na região das mulheres que vivem da cata de marisco são anteriores à pandemia. Desde 2019, com o aparecimento de petróleo na região litorânea do Piauí, a procura pelo fruto do mar apresentou queda e os animais começaram a desaparecer.
Com benefícios escassos e cortes dos auxílios federais, durante a pandemia, a situação piorou quando algumas mulheres ficaram sem conseguir o auxílio emergencial. Problemas relacionados à saúde também preocupam as mulheres. Segundo elas, desde que foi comprovado o aparecimento das manchas de óleo no mar, não foi feito um estudo e monitoramento para saber se houve consequência da ingestão dos animais pelos moradores da região.
O turismo local, segundo as marisqueiras, ao invés de aliado, também se tornou um empecilho. Luiza destaca que há desvalorização por parte dos empresários do litoral, uma vez que não compram os frutos do mar colhidos por elas para fomentar a economia local.
Para a vice-presidente, a crise ambiental e a briga por espaços na região faz com que cada vez menos haja incentivo da cata de marisco na região. Ela explica que os “atravessadores” – pessoas que compram com as marisqueiras para revender em restaurantes – desvalorizam os produtos para comprar mais barato.
“A gente precisava de um turismo comunitário e não puramente empresarial. Isso não reflete na nossa economia. Eles preferem vender frango na barraquinha da praia ao invés de marisco. Isso não é progresso”, lamenta a vice-presidente.
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