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Piauiense utiliza redes sociais para estimular pessoas a estudar no exterior

Joanna Lima colaborou com o estudo que ganhou o Prêmio Nobel de Medicina em 2019

17 de agosto de 2021

São quatro horas de diferença no fuso horário quando Joanna Lima liga a câmera na Inglaterra para contar sua história. Teresinense de 32 anos, filha de mãe solo, graduada na Universidade Federal do Piaui (UFPI) e até pouco tempo residente no bairro Recanto da Saudade, zona sul da capital. Atualmente, a cientista faz parte da equipe do pesquisador Peter Ratcliffe, na Universidade de Oxford, na Inglaterra, professor ganhador do Prêmio Nobel de Medicina em 2019.

Peter Ratcliffe e Joanna Lima (Foto: Reprodução)

A pesquisadora que se considerava uma aluna mediana tanto no ensino médio quanto na graduação em Biologia foi a responsável pela descoberta do gene indutor de hipóxia, importante fator para o desenvolvimento da pesquisa feita pela equipe de Peter Ratcliffe, que recebeu o Nobel. “Foi o momento mais incrível que vivi”, comenta Joanna sobre o reconhecimento de sua pesquisa.

Hoje, Joanna continua desenvolvendo pesquisas científicas junto a Peter. Neste momento, seu projeto observa o comportamento da mutação da síndrome Von Hippel-Lindau (gene VHL) ao longo dos anos. O objetivo da pesquisa é compreender o que gera o câncer renal “Isso deve permitir que a gente descubra mecanismos de alvos e tratamento para a doença”, explica a especialista que além do trabalho desenvolvido em laboratório também compartilha dicas para brasileiros que como ela querem estudar no exterior em suas redes sociais.

A primeira motivação da pesquisadora para dividir informações sobre bolsas de estudo em seu perfil @joannaclima foi disseminar o conhecimento que adquiriu ao longo dos anos entre os processos que fez para intercâmbio acadêmico no exterior. A segunda, para divulgar bolsas de estudo, veio com o reconhecimento do seu trabalho, algo constantemente desvalorizado no Brasil.

Tudo começou com uma simples curiosidade. Em suas redes, perguntou “Você sabia que pode aplicar sua nota do ENEM para universidades no exterior?”. Com as respostas, percebeu que muitas pessoas têm vontade de estudar fora, mas não seguem com o sonho por desconhecimento e por acharem que precisam de muitos requisitos. “As pessoas em geral acham que só quem tem um currículo brilhante pode fazer intercâmbio”, comenta. Para a cientista, o diferencial está na persistência e na perspicácia em saber lidar com as adversidades. 

Falta de incentivo no Brasil desestimula retorno de pesquisadora

A piauiense que desenvolveu um estudo tão importante para o desenvolvimento de pesquisa detentora do Nobel, até tem o sonho de voltar para o Brasil como professora. Mas, ao pensar na falta de investimento e de reconhecimento, se desestimula. “Tenho 32 anos, se eu fizesse meu pós-doutorado no Brasil, até mesmo 37 anos não teria começado a contribuir para a aposentadoria”, lamenta. “A profissão de cientista não existe. É uma profissão qualificada barata”, complementa.

No Brasil, a função de pesquisador ou cientista não é uma profissão regulamentada. O ofício acontece de forma não-remunerada ou por meio de financiamento de bolsas por curtos períodos de tempo. No Doutorado, a remuneração fixa de um bolsista é de R$2.200,00 (dois mil e duzentos reais), enquanto que no pós-doutorado a remuneração mensal não ultrapassa R$4.100,00 (quatro mil e cem reais). O valor não acompanha a inflação ou reajuste e tem essa base de cálculos desde 2013.

Entretanto, atualmente a baixa remuneração também das bolsas para cientistas no país não é o maior problema. Conseguir um auxílio, por si só, já é um caminho de difícil acesso. Um contraste que Joanna revela indiretamente em suas redes. 

Enquanto Nova York tem oferecido bolsas de R$9.000,00 (nove mil reais) para escritores, uma área pouco estimulada no Brasil. A principal agência de financiamento do país, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), efetivará este ano o pagamento de apenas 396 dos 3080 bolsas de doutorados e pós-doutorados aprovados no país, somente 13%. O corte vem de anos e só se acentuou com a pandemia.

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Categorias: Últimas

Camila Santos

Graduanda em jornalismo na Universidade Federal do Piauí.

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