Uma pesquisa realizada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em 2020 confirma a intensificação do abuso de álcool durante o isolamento social – o crescimento foi de 93%. Além dos dados alarmantes sobre o aumento de modo geral, um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), antes mesmo da pandemia, revelou o constante crescimento do consumo entre crianças e adolescentes.
De acordo com a pesquisa, no Brasil, 26,8% dos jovens com idades entre 15 e 19 anos relataram consumo de álcool, o que é um fator de risco para acidentes, violências e doenças. O levantamento também aponta que, de cada dez pessoas que começam a beber antes dos 15 anos, seis fazem isso em festas ou por influência dos amigos. A pesquisa foi feita com dez mil estudantes de ambos os sexos entre 13 e 17 anos.
O consumo de álcool entre crianças e jovens têm despertado a preocupação entre profissionais da saúde e se tornou um dos temas debatidos no Congresso Nacional, por meio da Comissão de Educação (CE) , que colocou em pauta a proibição da entrada de crianças e adolescentes em eventos com livre fornecimento de bebidas alcoólicas.
O Projeto de Lei do Senado (PLS) 486/2018 é dirigido a eventos do tipo open bar, por exemplo. Caso seja aprovado, o projeto, da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Maus-Tratos, altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA — Lei 8.069, de 1990) e impõe multa e permite o fechamento, em caso de reincidência, de estabelecimentos que admitam a entrada ou a permanência de criança ou de adolescente nesses eventos. O texto já foi aprovado pela Comissão de Direitos Humanos (CDH).
Estudos apontam que a experimentação antes dos 15 anos aumenta em 4 vezes o risco de desenvolver dependência. Legislações, como a Lei Seca, que endurece as regras sobre beber e dirigir, e a Lei nº 13.106/2015, torna crime a oferta de álcool para menores de 18 anos, mas ainda são muitos os desafios.
Embora no Brasil seja proibida a venda de produtos alcoólicos para menores de 18 anos, não é difícil burlar a lei e menores conseguirem adquirir bebida alcoólica. O consumo é comum tanto em casa, quanto em ambientes públicos.
Beber na frente dos filhos é péssimo hábito
A família também é parte fundamental neste processo, uma vez que os hábitos dos pais podem refletir no comportamento dos filhos. Dados levantados pela pesquisa do Institute of Alcohol Studies, do Reino Unido, revelam que um em cada dez pais afirma ter ingerido álcool na frente de seus filhos e metade deles já ficou embriagada.
Esse comportamento, independentemente da quantidade consumida, pode impactar a saúde mental das crianças, tornando-as mais retraídas e preocupadas. Dessa forma, mesmo os pais que não possuem dependência alcoólica podem causar problemas aos filhos.
Especialista defende a prevenção
Para a psicóloga, Sibely Gonçalves, são muitos os fatores que influenciam este comportamento. “Em síntese, a influência dos amigos, necessidade de aceitação e pertencimento a determinados grupos, traços de personalidade e até a presença de fatores hereditários”, observa. Ela cita que, além de prejudicar o desenvolvimento do sistema nervoso, o consumo precoce de álcool gera consequências negativas. “O jovem tende a apresentar queda no rendimento escolar por dificuldade na aprendizagem, conflitos familiares, mudança no comportamento dentro da sociedade e também consequências mais sérias como a gravidez precoce e indesejada, além de violência e acidentes”, pontua.
A especialista acredita que o desenvolvimento de programas de prevenção e tratamento podem gerar bons resultados. “Dentro do atual contexto em que vivemos, de pandemia, é preciso olhar para as necessidades dos adolescentes”, recomenda. “Sabemos que outros fatores pessoais e ambientais contribuem para a iniciação e o aumento no uso de bebidas alcoólicas. Por isso é essencial o amparo social, além do desenvolvimento de programas preventivos”, finaliza.
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