Adolfo Pereira de Araújo era chefe de gabinete em um órgão público. Aos 53 anos, trocou o escritório pelo estúdio, de onde sai seu mobiliário artesanal, criações próprias feitas em madeira. “Eu larguei tudo”, conta ele, quando finalmente se tornou Adolfo Pallandra – nome dado carinhosamente pelo pai na infância. “Eu tô até colocando esse nome no meu registro”, brinca.
Ao trocar a vida que tinha, o primeiro passo foi se matricular na faculdade de designer de interiores. Filho de marceneiro, desde os seis anos de idade Palandra impressionava os jovens com suas tecnologias, apenas com a simplicidade do que seu pai fez a vida toda. Não à toa, ainda no primeiro período da faculdade, já dava palestras sobre processo construtivo.
“Perceberam minha veia”, ressalta, contando que ele mesmo constrói o projeto, da madeira ao estofado. Foi ainda no início do curso que a coordenadora o convidou para trabalhar miniaturas de mobiliário. Ainda estudante, Pallandra foi à Escola de Design de São Paulo – uma das mais conceituadas da América Latina – para dar uma palestra. Quando a Escola comemorou seu 110° ano de atividade, o nome do piauiense foi escolhido para ser homenageado.
Hoje, suas miniaturas viajam dentro e fora do Brasil. “Eu me propus a ser o maior colecionador de mobiliário”, diz detalhando que possui mais de 700 peças em miniaturas de obras das quais ele garante serem “respeitadíssimas no que diz respeito a qualidade e acabamento”. Mas nem são as miniaturas seus maiores trabalhos: suas peças mobiliárias em tamanho real são suas obras mais apreciadas.
Entre elas está a cadeira Arapuca – que foi destaque na exposição Novos Talentos Brasileiro, realizada no mês de setembro, no Rio de Janeiro, este ano. Tradicionalmente, “arapuca” é uma armadilha em formato de pirâmide, comumente em cidades nordestinas para capturar aves ou pequenos mamíferos. “Vi muita arapuca na minha infância”, conta. “Isso é muito de designer, tudo que ele vê, ele quer criar”, destaca.
Nas mãos de Pallandro, a imagem da arapuca virou arte. Isso porque, para ele, basta virar uma arapuca de “cabeça para baixo” que ela se transforma em uma cadeira. “Se você a visse pessoalmente, você entenderia”, diz à reportagem. “Ela fala por si só”.
Não apenas Arapuca, mas em todas as suas criações, o piauiense busca ressaltar seu traço mais singular: a regionalidade. Para ele, se conectar com suas raízes o coloca de frente com o maior prazer dentro da arte. Entre suas outras produções, como Banco Mulher Rendeira, Banco Cangaia, Poltrona Babaçu e Banco Caranguejo, fica explícita a conexão de Pallandro com a região onde nasceu.
Como profissional, Pallandro até aceita receber um “briefing” – mas confidencia não ser seu método favorito de criação; “Não gosto dessas coisas em inglês, aprendi na faculdade”, conta. “Eu gosto de ir me inspirando nas ideias”, diz em conversa leva que dá pistas sobre seu processo criativo. “Não gosto de me prender a estilos, o importante é contar histórias da minha terra”.
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