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Auxílio Brasil gera insegurança e reflete política eleitoreira, aponta cientista político

No Piauí, cerca de 460 mil famílias devem migrar para o novo programa

11 de novembro de 2021

Edição Luana Sena

2020 foi um ano difícil para Ana Lúcia, mas o fim de 2021 vem preocupando-a ainda mais. No dia 2, feriado de finados, Ana e 14 milhões de brasileiros se despediam do Bolsa Família – programa fruto dos governos petistas há quase duas décadas. O valor que a faxineira recebia, em torno de R$130 reais, agora vai fazer falta no orçamento familiar. Ana não foi contemplada dentro do Auxílio Brasil – novo programa social do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). “O benefício que eu recebia era o preço de um botijão de gás e um pacote de arroz”,  declarou. “Mas para quem não tem nada, já era alguma coisa”. 

No Piauí, cerca de 460 mil famílias devem migrar para o novo programa. O auxílio, entretanto, tem tempo limitado: até o final de 2022, logo após as eleições presidenciais. O benefício que promete dobrar o valor – de R$180 para R$400 – ao mesmo tempo mergulha milhões de brasileiros na incerteza.

Para Sandra Rodrigues, doméstica desde os 17 anos, o programa foi o que garantiu que sempre pudesse haver comida em casa para ela e seus cinco filhos. A mulher, que pouco tem acesso à internet, confessa não ter instrução para ingressar no trâmite burocrático exigido no Auxílio Brasil. “Dizem para entrar no aplicativo. Que aplicativo, se eu não tenho nem internet em casa?”, lamenta Sandra. “Que país é esse que torna tudo mais difícil para quem é pobre?”, declara. 

A estratégia, para o cientista político Rodrigo Maxwel, é vista como puramente eleitoreira, uma vez que, em quase três décadas como deputado federal, Bolsonaro pontuava que as políticas assistencialistas eram utilizadas pela máquina pública para obter votos. Ao transformar um programa em outro, o presidente se contradiz. 

Outro ponto crucial para analisar o programa por esse viés é a estratégia utilizada pelo Governo Federal para furar o teto de gastos do ano que vem. No dia 4 de novembro, a Câmara dos Deputados aprovou a PEC do Precatórios. A aprovação foi tomada em uma madrugada de apertos, que venceu com 312 votos – quatro a mais que o necessário para a tramitação. 

Nas redes sociais, a proposta foi vista como um “calote” por parte do presidente Jair Bolsonaro, abrindo um espaço de 91,6 bilhões de reais no orçamento de 2022. O Auxílio Brasil foi a justificativa usada pelo Ministério da Economia para a tramitação  da PEC. 

“São estratégias pensadas pelo governo que demonstram o resultado da destinação de emendas para os políticos que estão em sua base”, analisa Rodrigo. “Entretanto, a medida é eleitoreira e traz insegurança para as classes mais dependentes do Bolsa Família que não receberam o benefício e para os que receberam, mas não sabem como serão assistidos após o término no Auxílio Brasil”, conclui o cientista. 

 

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