Emely Alves, aos 21 anos, sentiu dormência na boca um dia antes de ter sido diagnosticada com síndrome de Bell – um inchaço no nervo facial que paralisa metade dos movimentos do rosto. Como tratamento, a medicação receitada foi corticoide e fisioterapia. Entretanto, por saber que o uso do canabidiol – óleo extraído da Cannabis Sativa – era antiinflamatório, apostou no óleo na primeira semana de recuperação.
O avanço do tratamento foi ágil. Hoje, quase dois meses depois do ocorrido, sente que o uso da medicação auxiliou positivamente no desinchar do nervo e retorno dos movimentos. Se recuperando progressivamente a cada dia, Emely lamenta que as discussões legais sobre medicamentos à base da cannabis não avancem no estado. “Para muitas pessoas, o óleo é questão de vida ou morte”, comenta a estudante. “Infelizmente, apesar das informações estarem aí pra quem quer ver, as autoridades continuam negando os seus benefícios por preconceito”, frisa.
Nessa terça-feira (30), a Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi) arquivou o Projeto de Lei que visa liberar o uso de medicamentos à base do óleo CBD no estado. Com a decisão, o projeto não poderá mais ser discutido na Casa.
Leia mais: Cultivo de cannabis ainda é tratado com preconceito no Piauí, diz advogado
Entre as justificativas, o deputado estadual Júlio Arcoverde (Progressista) afirmou que é necessário que o projeto tramite no Congresso Nacional para que seja avaliado à nível estadual. Em junho de 2021, a Câmara dos Deputados Federais analisou o Projeto de Lei 399/15, que aprovou a legalização do cultivo no Brasil para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais da Cannabis.
No Brasil, segundo dados da Rede Reforma, atualmente cerca de 200 pessoas conseguiram na justiça permissão para cultivar maconha em casa e extrair da planta o óleo CBD – cannabidiol – para fins medicinais. A permissão funciona como um habeas corpus preventivo, tendo em vista que o plantio da Cannabis é previsto em pena de 5 a 15 anos de reclusão.
Em entrevista à TV Cidade Verde, o deputado Carlos Augusto (PL) pontuou que acredita no tratamento. Entretanto, não há como dimensionar a administração do plantio. “Quem vai plantar? Quem vai fiscalizar? Não podemos ter plantação de maconha indistintamente nesse país porque estamos longe de estar preparados para isso”, declarou o deputado.
Para quem faz o uso medicinal da substância, a discussão sobre o óleo CDB não avança no Piauí por preconceito. João Paulo conheceu o remédio quando Theo, seu filho, aos três meses de vida, apresentou convulsões e crises epiléticas derivadas da síndrome de West. Em meio a vários tratamentos invasivos e sem sucesso, o quadro clínico da criança melhorou após o tratamento com Cannabis.
Por conta da burocracia e do alto preço, a família entrou na justiça. Para ele, é lamentável que um assunto que diz respeito à saúde pública não avance e não tenha visibilidade pelos parlamentares locais. “Uma cultura que entende a maconha como porta de entrada para outras drogas”, diz sobre a dificuldade que enfrenta judicialmente no Piauí. “É vergonhoso que pessoas tenham uma solução, mas é barrada e negligenciada”, pontua.
0 comentário