sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Ciro Nogueira é vaiado e expulso por comunidade quilombola durante inauguração de UBS

Em quase uma década de espera por unidade hospitalar, quilombolas acreditam que ministro foi em busca de palanque político

10 de dezembro de 2021

A recepção na inauguração de uma Unidade Básica de Saúde que contou com a presença do ministro da Casa Civil, o ex-senador Ciro Nogueira e parte da sua comitiva, no município de São João da Varjota – distante 229km de Teresina – não foi das melhores. Sob vaias e gritos de “fascista”, a comunidade quilombola dos Potes mandava o recado para um dos principais aliados do governo Bolsonaro no Piauí: “O posto (a UBS) é do povo, quem manda é o povo!”, dizem os manifestantes em vídeo que circulou nas redes sociais desde o ocorrido, no último domingo (5).

Faixas e cartazes erguidos pelos manifestantes davam o tom do sentimento de insatisfação com a presença do Ministro da Casa Civil. Isso porque, há quase uma década a comunidade espera pela inauguração da UBS – no entanto, a estrutura ainda encontra-se inacabada. Nesta semana, zeladores levavam ventiladores pessoais porque a unidade não possuía ventilação ou climatizadores, como conta Juscelina de Sousa, uma das moradoras do quilombo dos Potes. 

A mulher, uma das organizadoras do protesto, cita que a solenidade não foi sequer anunciada aos moradores. Porém, questiona a presença de um político que não faz parte da pasta da saúde. 

A chegada da UBS, segundo Juscelina, é o resultado das constantes cobranças feitas pelos moradores – que já chegaram a invadir o espaço para poder fazer uma biblioteca e ensinar as crianças da comunidade. A situação chegou ao Ministério Público do Piauí, um dos responsáveis por pedir celeridade na entrega da unidade para os moradores. 

Em vídeo divulgado nas redes sociais, durante a reunião com apoiadores, Ciro nega que a entrega da UBS tenha sido incompleta. Em um discurso onde falou sobre honestidade e coragem, contou entre risadas que a manifestação era uma “gritaria política” e que a comunidade buscava espaço na mídia. “É esse o tipo de gente que a gente tem que enfrentar hoje no Piauí”, declarou.

Juscelina recebe a frase com indignação. “Querem ver preto é lascado”, declara a mulher, por telefone, contando que ao longo de quase 30 anos de vida pública do atual ministro, em sua maioria eleito pelo Piauí, nunca registrou presença ou levou melhorias para a comunidade quilombola dos Potes. “Ele é o tipo de gente que nunca precisou de uma UBS na vida por necessidade”, declara. “Ele e nenhum outro oportunista fascista vão fazer da nossa comunidade um palanque”, frisou.

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