A recepção na inauguração de uma Unidade Básica de Saúde que contou com a presença do ministro da Casa Civil, o ex-senador Ciro Nogueira e parte da sua comitiva, no município de São João da Varjota – distante 229km de Teresina – não foi das melhores. Sob vaias e gritos de “fascista”, a comunidade quilombola dos Potes mandava o recado para um dos principais aliados do governo Bolsonaro no Piauí: “O posto (a UBS) é do povo, quem manda é o povo!”, dizem os manifestantes em vídeo que circulou nas redes sociais desde o ocorrido, no último domingo (5).
Faixas e cartazes erguidos pelos manifestantes davam o tom do sentimento de insatisfação com a presença do Ministro da Casa Civil. Isso porque, há quase uma década a comunidade espera pela inauguração da UBS – no entanto, a estrutura ainda encontra-se inacabada. Nesta semana, zeladores levavam ventiladores pessoais porque a unidade não possuía ventilação ou climatizadores, como conta Juscelina de Sousa, uma das moradoras do quilombo dos Potes.
A mulher, uma das organizadoras do protesto, cita que a solenidade não foi sequer anunciada aos moradores. Porém, questiona a presença de um político que não faz parte da pasta da saúde.
A chegada da UBS, segundo Juscelina, é o resultado das constantes cobranças feitas pelos moradores – que já chegaram a invadir o espaço para poder fazer uma biblioteca e ensinar as crianças da comunidade. A situação chegou ao Ministério Público do Piauí, um dos responsáveis por pedir celeridade na entrega da unidade para os moradores.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, durante a reunião com apoiadores, Ciro nega que a entrega da UBS tenha sido incompleta. Em um discurso onde falou sobre honestidade e coragem, contou entre risadas que a manifestação era uma “gritaria política” e que a comunidade buscava espaço na mídia. “É esse o tipo de gente que a gente tem que enfrentar hoje no Piauí”, declarou.
Juscelina recebe a frase com indignação. “Querem ver preto é lascado”, declara a mulher, por telefone, contando que ao longo de quase 30 anos de vida pública do atual ministro, em sua maioria eleito pelo Piauí, nunca registrou presença ou levou melhorias para a comunidade quilombola dos Potes. “Ele é o tipo de gente que nunca precisou de uma UBS na vida por necessidade”, declara. “Ele e nenhum outro oportunista fascista vão fazer da nossa comunidade um palanque”, frisou.
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