A inquietação de dois amigos, o publicitário André Gonçalves e o professor Wellington Soares, culminou em 2011 na circulação do primeiro número da revista Revestrés. A ideia era a existência de uma publicação que pudesse falar de cultura, arte, literatura e Piauí. Nesta quinta-feira (16), após quase uma década da primeira edição, chega às bancas a revista número 50. O lançamento acontece às 18h30, no espaço Bate-Papo Literário, no Salão do Livro do Piauí – na Universidade Federal do Piauí (UFPI).
No dicionário, “revestrés” significa qualquer ação ou movimento cometido de forma avessa ao que é feito. Segundo André, a ideia da revista era essa: pensar ao contrário. “Cultura não vende? Não dá resultado? Não pode ser um negócio?”, relembra o publicitário dos primeiros anos da publicação, quando havia um receio do mercado em abrir as portas para esse circuito editorial. “Ao contrário, vamos mostrar que se pode pensar em cultura nesse formato”, declarou André.
André conta que os perfis escolhidos para as entrevistas de cada edição são baseados em pessoas com ideias diferentes e que buscam incomodar com seus pontos de vista. No editorial da mais nova publicação, Sobre o quinquagésimo sonho, André fala dessa edição misturar memórias das edições anteriores – porém, muitas perguntas feitas ao longo de tantas publicações, ainda seguem sem resposta.
O editor devolve novamente a resposta quando indagado se, em quase uma década, a revista segue incomodando: “Eu espero que sim”, afirma. “Muita gente acha que ter algo interessante a dizer precisa fazer parte de um perfil. E a gente gosta de mexer nesse perfil”, declara. “Muito mais que a Revestrés, são as pessoas que a gente consegue trazer: Ziraldo e Sthefanny do Crossfox. Piseiro ou orquestra. Ferreira Gullar e Assunção Aguiar. Essa diversidade dá um sentimento de importância para que essas pessoas possam discutir sobre o que pensam”, finaliza.
Samária Andrade, integrante do conselho editorial da Revestrés, conta que ao longo dessas edições, a revista provou como ainda há muito assunto para ser falado. “As abordagens não se esgotam, as pautas não acabam e as pessoas gostam de ler”, declara. Como prova, vez ou outra encontra pessoas que colecionam desde a primeira edição. “É uma resposta de que no Piauí pode ser feito um bom jornalismo que contribui com reflexões, pautas e pessoas”, frisa a jornalista. “A Revestrés é acima de tudo, acreditar no jornalismo”, destaca.
Com o passar do tempo, uma das preocupações em publicar a revista foi sendo pautada em como torná-la acessível. Um dos sonhos dos “Revés” – como chamam-se carinhosamente as pessoas que compõem a revista – é torná-la totalmente gratuita. Ainda não há o aporte necessário para poder manter a circulação sem custos. Atualmente, cerca de 60% da edição é distribuída. “É uma forma de fazer ela circular onde muita gente não tem acesso”, pontua André.
Depois que a revista circula
As páginas da Revestrés alcançaram os muros da universidade. Nos últimos dez anos, o periódico foi objeto de investigação de estudantes da graduação e pós-graduação – dentro e fora do Piauí. Em uma busca do nome da revista no Google Acadêmico – mecanismo virtual de pesquisa livre acessível -, a Revestrés é explorada em mais de 130 trabalhos – entre artigos científicos, Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), dissertações e teses.
É o caso de Mayara Ferreira. A professora e pesquisadora estudou, durante os dois anos de mestrado na Universidade Federal do Piauí (UFPI), as memórias da cultura através da identidade piauiense em 22 exemplares da Revestrés, que circularam entre os anos 2012 e 2015.
A vontade nasceu ainda na graduação, quando apresentou o TCC sobre cultura e mídia impressa. Mas, no mestrado, despontou em investigar como a Revestrés, para além do jornalismo, criava uma memória piauiense que lançava luz sobre a cultura do estado.
“Considerando a Revestrés como um lugar de memória da cultura piauiense, percebemos que essas lembranças são muito favoráveis à cultura da cidade, ao urbanismo, ao que é moderno no Piauí, e desfavoráveis ao que é do interior, ao que é ruralizado, assim como às manifestações da cultura negra e indígena que, portanto, são memórias que estão sendo marginalizadas pelo impresso”, escreve Mayara na conclusão de seu trabalho.
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