A proporção de brasileiros endividados encerrou o ano de 2021 em patamar recorde, com média de 70,9% da população, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). Em comparação com o ano de 2020, o crescimento foi de quase 5 pontos percentuais, o maior aumento registrado desde 2010.
A CNC considera como dívidas as contas a pagar em cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito pessoal, carnês, financiamento de carro e financiamento de casa, entre outras modalidades.
Embora o endividamento tenha aumentado, houve pequena redução na inadimplência em 2021. O percentual de famílias com contas ou dívidas em atraso diminuiu 0,3 ponto porcentual, de uma média de 25,5% em 2020 para 25,2% no ano passado. No mês de dezembro, porém, o total de inadimplentes foi mais elevado: 26,2%.
Entre os 65 milhões de brasileiros endividados no mês de dezembro, encontra-se Maria de Jesus, cabeleireira, que acumula dívidas relacionadas a cartões de créditos e empréstimos. Além dos altos juros, a cabeleireira contraiu dívidas que estavam fora do seu planejamento financeiro com o aumento de alguns itens como gás e gasolina, atrasando as faturas dos cartões de crédito e parcelas do empréstimo.
Maria conta que realizou um empréstimo no início de 2021 para ajeitar sua casa, mas pouco tempo depois o salão que ela trabalhava não teve condições de continuar com seus serviços. A partir daí, resolveu comprar seus próprios instrumentos de trabalho com o dinheiro do empréstimo e realizar atendimento em domicílio. O que Maria não contava era com o constante aumento de itens básicos, como luz, alimento e gasolina, necessários para que pudesse executar seu trabalho.
“Hoje o que eu recebo mal dá para pagar escola, fazer supermercado e colocar gasolina para trabalhar”, diz a profissional. “Sem planejamento, comecei a me enrolar com as faturas dos cartões e no momento estou tentando me organizar para não sujar meu nome”.
De acordo com o relatório macroeconômico do Serasa, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) fechou o ano de 2021 no patamar de dois dígitos: 10,06%. Essa é a pior taxa anual de inflação desde 2015, ano em que o IPCA acumulou alta de 10,67%. Os três itens que mais turbinaram a inflação foram: gasolina, etanol e gás de cozinha.
A cabeleireira acredita que o ponto chave do seu endividamento foi a falta de planejamento na hora de empreender. “Não coloquei na ponta do lápis os gastos com gasolina, a escola das crianças, material escolar. Tudo ficou muito caro por conta da pandemia”, explica.
Segundo o mapa da inadimplência, os homens são mais inadimplentes do que as mulheres mas, em contrapartida, são os que mais negociam as dívidas para limparem seu nome negativado no Serasa. A faixa etária que mais possui inadimplência é de 26 a 40 anos.
Para o presidente da CNC e economista, José Roberto Tadros, mesmo com alguns aumentos, há um relativo controle da taxa de inadimplência diante do cenário econômico em que o Brasil se encontra.
“A inflação corrente elevada e disseminada tem deteriorado os orçamentos domésticos e diminuído o poder de compra das famílias, em especial as na faixa de menor renda. Mas, os números de acordos feitos com o Serasa demonstram os esforços em manter os compromissos financeiros em dia, com renegociação e melhor controle dos gastos”, avalia.
O economista também observa que o número de famílias endividadas no cartão de crédito segue avançando, atingindo 84,9% do total de dívidas contratadas. Em relação a outubro de 2020, a modalidade avançou 6,4 pontos no endividamento, o maior incremento anual da série histórica do indicador. “É um indício de que os consumidores estão buscando alongar os prazos de pagamentos de suas dívidas para que a parcela caiba nos orçamentos e, assim, evitem a inadimplência”, explica.
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