sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Um afoxé para Mautner

Músicos piauienses lançam single em homenagem - e parceria - a Jorge Mautner. Ouça!

20 de abril de 2022

Quem foi a algum show da banda Validuaté, lá pelo começo dos anos 2000, com certeza já ouviu o grito do poeta e compositor Thiago E: “Ei, mãe! Quando eu crescer, eu quero ser o Jorge Mautner!”, dizia sempre ao final da canção “Superbonder: um hino para a pós-modernidade”, um dos primeiros sucessos do grupo.  Ele tinha entrado em contato com a poesia irônica de Mautner aos 18 anos, quando ouviu, pela primeira vez, um samba assinado por ele e Nelson Jacobina.

Ficou fissurado. Algum tempo depois, comprou toda a obra de Jorge Mautner e conheceu a sua literatura. “Isso transformou minha percepção: falar dentro da música, contar histórias”, lembra o piauiense Thiago. Em 2010, poeta e fã se conheceriam em Teresina. Na oportunidade, cantaram juntos, conversaram e, de lá para cá a amizade virou parceria: Thiago fez e publicou entrevistas com ele (uma delas, na Revista Revestrés; outra, na Cult). Mautner também escreveu o prefácio de seu primeiro livro.

Thiago e Mautner no Rio: um brinde com cajuína (Foto: arquivo pessoal)

Agora, a parceria virou um salve em afoxé – Thiago E e o músico também piauiense, Joniel Veras, acabam de lançar o single “Ave Mautner”. A ideia surgiu lá em 2017, de uma visita que os dois fizeram ao apartamento de Jorge no Rio de Janeiro – ele acabava de se recuperar de um infarto. “Levei cajuína, conversamos bastante e brindamos à sua saúde!”, relembra Thiago. Ele e Joniel já saíram dali conversando sobre uma canção que homenageasse seu ídolo em comum, desta vez, com sua própria participação.

Em “Ave Mautner” – que você pode ouvir no Spotify – todos os versos fazem referência a vida, a música ou a literatura de Jorge. São citadas as canções “Orquídea Negra”, “O Vampiro”, “O Filho Predileto de Xangô”, “Cinco bombas atômicas”, além dos discos “Antimaldito”, “O Ser da Tempestade”, “Para Iluminar a Cidade” e os livros “Deus da Chuva e da Morte” e “Kaos”. “Também destacamos o fato de Mautner ser filho de refugiados da Segunda Guerra Mundial, isso foi o ponto de partida de toda a sua arte e de seu potente pensamento sobre o Brasil”, explica o autor da letra. 

A harmonia e melodia ficaram por conta de Joniel, músico piauiense que mora em São Paulo desde 2019. “Pensei no jeito bonito, e quase sempre positivo, que o Mautner trata as palavras ‘negra’ e ‘negro'”, comenta em conversa pelo Whatsapp. “A música precisava começar emulando um dos tantos ‘ais’ dele, os agudos que Mautner faz, lembrando algo de zombaria e melancolia ao mesmo tempo”. 

Mautner e Joniel Veras no encontro em 2017 (Foto: arquivo pessoal)

Joniel Veras cantou com Thiago E, que também gravou cavaquinho e pandeiro. O músico Pedro Ben foi responsável pela gravação do single, além de tocar violão, guitarra e baixo. Lucas Rolim foi o percussionista com congas, ganzá, agogô e timbal. O produtor musical Jan Pablo cuidou da mixagem e masterização.

A turma contou com a ajuda do produtor de Mautner, João Paulo Reys, para a gravação de sua voz lendo os trechos de “Fragmentos de Sabonete” e “Fundamentos do Kaos”, escolhidos por Thiago E. Aos 81 anos, o multiartista segue impactando o pensamento criativo sem fronteiras – como influenciou Thiago, desde o início de sua carreira até fazerem algo juntos, hoje: “Pra mim, gravar ao seu lado, que tanto me nutre de vitalidade, é de uma alegria que nem consigo descrever”.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Luana Sena

Jornalista, mestra e doutoranda em comunicação na Universidade Federal da Bahia.

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