O feriado de quarta-feira (2) foi marcado pelas agressões sofridas por jornalistas teresinenses, que cobriam a manifestação antidemocrática de eleitores insatisfeitos com o resultado das urnas. O segundo turno das eleições elegeu Lula (PT) o novo presidente do país, no último domingo (30). Na noite de terça-feira, manifestantes começaram a se reunir em frente ao 25º Batalhão de Caçadores, na Av. Frei Serafim, em Teresina.
Com bandeiras em punho e trajados de verde e amarelo, homens e mulheres exigiam o fim do comunismo, convocavam uma resistência civil, “intervenção federal” e gritavam palavras como ordem e democracia. Eles receberam agressivamente alguns jornalistas que se dirigiram ao local para registrar os acontecimentos. Em vídeo divulgado pelo perfil do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Piauí (Sindjor-PI), no Instagram, é possível ouvir uma manifestante pedir aos presentes: “Por favor, não vamos dar entrevista! Eles vão vender a sua entrevista, vão deturpar”.
Mikaela Ramos, repórter do portal GP1, foi uma das vítimas das agressões. Em entrevista ao oestadodopiaui.com ela relata que, logo após chegar ao local e perguntar sobre um documento que estava sendo assinado pelos manifestantes, teve seu pedido de entrevista rejeitado. “Logo que uma das mulheres da fila percebeu que eu era jornalista, disse que ninguém ali falaria comigo”, conta Miakaela.
Enquanto conversava com o único presente que topou explicar a manifestação, Mikaela conta que ela e o cinegrafista, além de repórteres de outros veículos, foram cercados e intimidados por um grupo de mulheres. As agressões foram verbais, por meio de xingamentos e acusações, o que configura violência moral, injúria e difamação. “Uma senhora com um megafone começou a gritar que a imprensa era culpada de tudo de ruim que estava acontecendo no Brasil”, relata. “Fizeram uma série de acusações contra nós, nos chamando de vagabundos, me chamando de vagabunda”, conclui.
Assustada, a jornalista começou a filmar as falas da manifestante com seu celular, mas a gravação logo foi encerrada por medo de uma nova tentativa de repressão. Mikaela conta que um homem também gritou com a equipe, apontando o dedo para a jornalista e a acusando de proferir ofensas contra os manifestantes. “Ele também me hostilizou. Temi pela minha integridade física”, disse à reportagem. “Virei as costas e fui praticamente correndo até o carro da nossa equipe”. Após o episódio, a equipe se dirigiu à redação. Nenhum boletim de ocorrência foi registrado.
Em nota, o Sindjor e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiaram os ataques e tentativas de intimidação contra a imprensa local. De acordo com as entidades, também foram agredidos repórteres do G1 Piauí, TV Antena 10, Portal Viagora e TV O Dia. “Estamos vivenciando momentos de intensas violências contra nossos profissionais (…). São discursos de ódio proferidos repetidas vezes, na tentativa de nos calar, de nos intimidar e, especialmente, deslegitimar a importância da nossa profissão”, diz o texto.
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