sábado, 23 de novembro de 2024

O preço da Lava-Jato e uma pergunta ainda sem resposta

08 de junho de 2021

Talvez seja preciso ter um cuidado ao lançar um olhar mais reflexivo sobre este tema para não parecer provocação, reforço de polarização ou simples denúncia do que vem acontecendo no país desde 2013. 

Retomo a decisão do STF de anular as condenações da operação Lava Jato contra o ex-presidente Lula e  considerar a   incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) para julgar as ações penais contra o ex-Presidente para analisar a relação operação Lava Jato, corrupção, eleições e o momento que estamos vivendo. O referido resultado mostrou que a tão incensada, por setores extremamente conservadores da sociedade e pelas elites empresarial, jurídica, política e midiática, a operação abriu as portas para este momento do Brasil.

A Lava Jato  inicialmente parecia, para algumas pessoas, ser a única  solução possível para o país. A sedutora proposta, emitida como um canto das sereias, era dizimar de uma vez por todas a maior e mais longeva praga brasileira: a corrupção. Homens togados travestidos simbolicamente com roupas de super-heróis e pessoas vestidas com a camisa da seleção brasileira de futebol sentiram que teriam, finalmente, a oportunidade de salvar o Brasil e os brasileiros de uma situação periclitante e descabida. 

As manifestações de 2013 apontaram as múltiplas pautas, desejos, sonhos e pesadelos que pulsavam vivos na estrutura social, nas mentalidades e no não consciente de muitas pessoas desejosas por estabelecer uma ordem. A vontade de restabelecer a ordem parecia legítima e uma contribuição ao país. O ponto chave do conceito empregado é que para consegui-la, da forma como estes setores da sociedade queriam, e ainda querem,  promove uma  limpeza dos setores, pessoas e grupos considerados causadores da desordem. O segundo problema encontrado nesta situação é um silogismo falso cuja conclusão é: quem é contra, ou se locupleta e tem vantagens, ou não ama o Brasil.  Daí o nome Lava-Jato ser perfeito para referenciar a limpeza profunda, rápida e necessária que o país precisava antes das eleições de 2018. 

Assim como depois de uma longa viagem em estradas de terra e lamaçais, uma limpeza por partes pode ser, para o dono do veículo, demorada, trabalhosa e incerta dos resultados. A opção de ir a um posto e submeter o carro a jatos torrenciais de água e sabão apresenta-se como solução perfeita para a demora, o trabalho e a incerteza – mesmo tendo um preço mais caro a pagar. Evita pensar em mimimis bobos sobre a origem do sabão, da água, do material usado. Sustentabilidade e preservação do planeta não têm condições de disputar cliques e selfies.  O esquema funcionou mais ou menos assim: “Deixem que eu combato e extermino  a corrupção para vocês, mas vou precisar  destruir qualquer possibilidade de verdadeiramente combater a corrupção, “tá okay?”. 

Daquele distante ano, o cenário atual é de  dor, medo e incertezas. O números indicam que  hoje temos um total de 473 mil mortes; o Brasil ocupa o 55º lugar no ranking mundial de vacinação, em números proporcionais;  a fome como pauta urgente; dados do PNAD apontam 14,3 milhões de desempregados; o meio ambiente é frequentemente atacado pela politica ambiental estatal assim como tem  aumentado o número de assassinatos de povos indígenas, negros e jovens da periferia (este tema fica como reflexão para próximas colunas) porque  atrapalham as atuais políticas de governo.  

Pesquisas têm mostrado os impactos da operação Lava Jato nos setores nacionais  da construção civil, indústria naval e indústria petrolífera. Os prejuízos são imensos com baixa devolução efetiva dos recursos desviados. Todo dia surge um novo escândalo de corrupção cujo preço pagamos alto com as tentativas de apagar a chama acesa do impeachment. 

Observamos, nos últimos dois anos e alguns meses, a tentativa ferrenha de impor uma única visão sobre as inúmeras pautas sociais e coletivas espargindo litros de perfume para maquiar uma realidade que teima em se mostrar nua e crua. E, para finalizar, como não custa nada lembrar, a democracia só existe porque sobrevive mais das perguntas do que de algumas respostas: Quem mandou matar Marielle Franco? Por que?

sábado, 23 de novembro de 2024
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Paulo Fernando Lopes

Jornalista. Professor na UFPI. Escrevinhador sobre retalhos das realidades. Assuntador das questões de jornalismo, mídia, cultura, política, educação e o que mais couber no cesto e minhas agulhas me permitirem tecer.