Com a chegada da pandemia da Covid-19 no Brasil, no começo do ano passado, alunos e professores foram obrigados a substituir as salas de aula por suas residências e a trocarem as lousas por telas de computador ou de celular. Iniciou-se aí um grande desafio: o ensino remoto. A questão é que, num país tão desigual, essa realidade aprofundou ainda mais as dificuldades vividas na educação, principalmente na rede pública de ensino.
O acesso à internet ainda tem sido uma barreira para muitos estudantes e professores pelo Brasil, inclusive no Piauí, sendo um dos principais problemas para a manutenção das aulas.
Uma pesquisa realizada pelo Fundo das Nações Unidas Para a Infância (Unicef) revela que essa dificuldade ainda é maior para estudantes negros ou pardos, 42%, enquanto atinge 23% dos estudantes brancos.
Sem acesso a uma internet de qualidade, lidar com a nova realidade não tem sido fácil, tanto que o mesmo levantamento aponta a queda no número de estudantes da rede pública que querem que as escolas permaneçam fechadas (59%) em relação ao último levantamento, realizado em 2020, quando o percentual era de 71%. Mesmo assim, mais da metade dos entrevistados afirma que só retornará quando não houver mais riscos de contaminação pelo novo coronavírus.
No Piauí, o cenário na educação é de dificuldades. Ainda que o governo estadual tenha distribuído chips aos estudantes da rede pública, eles relatam que ainda seguem sem conseguir acompanhar as aulas. O adolescente Ravan Henrique, de 16 anos, matriculado em escola da rede estadual de ensino, relata a dificuldade em acompanhar os estudos por nem sempre ter acesso à internet. “Foi falado nesses chips, mas eu não cheguei a receber e outros colegas também não. Recebo atividades e orientações via WhatsApp, assisto aulas em vídeo por plataformas online”, comenta. “Em outros casos, eu mesmo vou buscar as tarefas e devolvo na escola. Uso internet dos vizinhos, dos amigos e às vezes atraso a entrega das atividades, mas faço como dá pra fazer”, acrescenta. A situação faz o aluno sentir saudade das aulas presenciais. “A gente se sentia mais motivado”, finaliza.
Para o professor Ossian Melo, da rede pública municipal de ensino de Miguel Alves, a rotina acontece mediante colaboração. “Muitos desses alunos moram na zona rural e não têm acesso a internet, mas incentivamos que realizem as atividades e buscamos maneiras de que os colegas e vizinhos colaborem nesse sentido”, finaliza.
Governo Federal quer vetar repasse que garantirá acesso à internet para alunos
A publicação da Lei 14.172/2021, que determina o repasse de R$ 3,5 bilhões para garantir o acesso à internet com fins educacionais, tem sido vista como uma garantia importante para auxiliar na continuidade do ensino remoto. Entretanto, a medida é questionada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que por meio da AGU (Advocacia-Geral da União), acionou o STF (Supremo Tribunal Federal) contra a Lei que já havia sido vetada por ele, mas teve o veto derrubado pelo Congresso.
De acordo com o relator da proposta no Senado, Alessandro Vieira (Cidadania-SE), os recursos podem assegurar a oferta mensal de 20 gigabytes de acesso à internet para todos os professores do ensino fundamental e médio das redes estaduais e municipais. Além deles, podem ser beneficiados os alunos da rede pública do ensino fundamental e médio integrantes de famílias vinculadas ao Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal. Também podem ser beneficiados os matriculados nas escolas das comunidades indígenas e quilombolas.
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