Após um ano e meio entre isolamento social e uma tragédia sanitária que assola o país, para muitas pessoas se tornou essencial a busca por psicólogos ou psiquiatras em Teresina. Mas quem não tem plano de saúde e precisou recorrer a consultas particulares levou um susto com os altos valores.
A alta no custo desses atendimentos é justificada pelo aumento da procura, cita uma profissional da área que preferiu não se identificar: “Não é que estamos cobrando mais caro”, afirma. “Obedecemos a tabela do CRP e nela existe o valor mínimo e o valor máximo que podem ser cobrados para cada serviço”, explica. “Como a procura aumentou bastante, os profissionais da rede particular passaram a praticar os valores máximos da tabela”.
Na contramão dessa realidade está a dificuldade financeira de grande parte das famílias, que precisam conviver com a quarta menor renda média domiciliar do país: R$ 827,00. Em tempos de recessão econômica, a necessidade dos cuidados em saúde mental pode ficar para segundo plano, sendo enxergados como gastos e não prioridade, o que pode ser um erro.
Em 2020, Teresina seguiu a lógica nacional e apresentou aumento significativo na procura por atendimentos psicossociais. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Teresina contabilizaram aumento no número de atendimentos – cerca de 4,16 mil atendimentos individuais foram realizados na rede municipal de saúde.
A gerente de saúde mental da Fundação Municipal de Saúde (FMS), Isabel Karine, diz que a estimativa é de aumento na procura durante todo este ano. “Tivemos um grande aumento nas triagens de pessoas que procuravam o atendimento pela primeira vez”, observa. “A gente acredita que até o final do ano vamos passar dos 50.000 atendimentos”.
Teve gente que não conseguiu vaga pela rede pública de saúde, como é o caso de Ana*. Em junho de 2020, ela estava desempregada e recebia apenas o auxílio emergencial e por isso procurou o serviço de atendimento psicológico gratuito “Nujoc Solidário”, desenvolvido pela Universidade Federal do Piauí. “Foram duas sessões e elas me trouxeram de volta”, comenta. “Após esses atendimentos não retornei, até que este ano senti novamente necessidade.”
Apesar da melhora após duas sessões no ano passado, Ana conseguiu um novo emprego e voltou a trabalhar presencialmente – mas a sensação de solidão permanecia, o que a levou a fazer privações pessoais para voltar à terapia. “Tem sido difícil essa rotina de ficar o tempo inteiro dentro de casa”, diz, referindo-se ao período de isolamento social. “Pensei que com o retorno ao trabalho eu poderia melhorar um pouco, mas não melhorei. Fiquei mais tensa, ansiosa por estar saindo e tendo contato com outras pessoas”, cita.
Demanda em clínicas duplicou e há fila de espera
O aumento da procura também é perceptível na rede particular. De acordo com a psicóloga Sibely Gonçalves, especialista em Tanatologia com ênfase em suicídio e que administra clínicas de psicologia em Teresina, em março de 2020, antes das primeiras notificações e aplicação de medidas restritivas de isolamento na capital, sua clínica atendia cerca de 45 pacientes por semana para tratar sintomas relacionados a ansiedade, depressão, estresse e outros problemas.
Hoje, um ano e meio depois, a clínica atende cerca de 90 pacientes por semana e há ainda uma enorme fila de espera. “Nossa demanda não chegou a triplicar porque não temos psicólogos e nem salas suficientes, mas nossa jornada de atendimentos aumentou, entre atendimentos presenciais e teleatendimento”, conta a profissional.
Acesso a consultas é difícil mesmo para quem possui plano de saúde
Quando se trata de saúde mental em Teresina, até quem tem plano de saúde enfrenta problemas. Fizemos uma busca na tentativa de agendarmos atendimento com médicos psiquiatras e psicólogos que atendem por meio de operadoras de planos de saúde e constatamos a real dificuldade. Em algumas das situações, médicos credenciados para atender por meio das operadoras estão recusando novos pacientes.
Em outras situações, os consultórios pedem que os novos pacientes agendem a primeira consulta por meio de plano particular e, a partir do segundo atendimento, o paciente pode seguir o tratamento através do convênio, fazendo com que o paciente, mesmo assegurado por um plano de saúde, tenha que desembolsar para conseguir atendimento.
Os valores variam de acordo com as clínicas e os profissionais. No caso dos psiquiatras, as consultas vão de R$400 até R$800,00. Já os psicólogos cobram, em média, R$200 a R$300 por consulta e de R$100,00 a R$170,00 por sessão.
Uma profissional da área de psicologia, que preferiu não ser identificada, também informou à nossa reportagem que algumas operadoras de plano de saúde repassam valores baixos aos credenciados. “Cerca de R$25,00 por sessão, o que faz com que alguns prefiram realmente atender pacientes de forma particular”, cita.
*Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos entrevistados.
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