O consumidor está pagando mais e comprando menos. Esse é o cenário atual comprovado pelos dados do último informe dos Índices de Consumo em Supermercados (ICS) e Índices de Consumo em Restaurantes (ICR). O levantamento, que aponta a variação do consumo nesses estabelecimentos em relação aos níveis observados no período pré-pandemia (2019), mostra a alta no consumo dos supermercados, contrariando o consumo em restaurantes, que ainda segue em baixa.
Enquanto o consumo nos supermercados apresentou uma alta de 5,7%, no valor total gasto, o volume de transações registradas se manteve 12,3% abaixo do patamar de referência pré-pandemia, segundo os Índices de Consumo em Restaurantes (ICR) que mostram ainda retração de 51,4% na quantidade de vendas, impacto mais profundo desde junho de 2020 (-53,1%). Somado a isso, o número de estabelecimentos comerciais que efetuaram transações em abril de 2021 foi 6,9% inferior ao observado no mesmo mês de 2019.
De acordo com dados do IBGE, em 2020 a inflação de alimentos medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 14,09%, contra 4,52% do índice geral. Já os dados da Abras revelam que as maiores altas nos preços em maio foram o tomate (7,12%), biscoito cream cracker (3,58%), carne – corte dianteiro (3,20%), carne – corte traseiro (3,07%) e a farinha de trigo (3,02%).
Em alguns produtos houve redução de preço, os principais foram a cebola (11,47%), arroz (1,92%), xampu (1,20%), batata (0,86%), feijão (0,83%) e queijo muçarela (0,83%). No mesmo período, as cinco regiões do país tiveram alta nos preços da cesta, sendo a maior oscilação no Sul. Com 2,10%, a cesta passou de R$ 694,99 para R$ 709,59. A alta dos alimentos já agrava a insegurança alimentar no país e, aliado ao fim do auxílio emergencial, o aumento dos preços pode fazer com que o Brasil volte ao Mapa da Fome.
O aumento dos preços interfere diretamente na qualidade da alimentação. Antônio Lisboa, aposentado de 65 anos, residente da zona rural de Teresina conta que está vivenciando isso em sua casa. “Não dá mais para comer carne todos os dias. Aqui sou só eu que recebo um salário e que, antes a gente fazia uma cesta bem farta, mas hoje a gente já escolhe o que comprar e o que deixar de fora das compras, pois as outras coisas também aumentaram de valor e a gente tenta manter o equilíbrio”, comenta.
Tem se tornado comum cenas como a registrada na semana passada em Cuiabá (MT), quando dezenas de moradores se aglomeraram em frente a um açougue para receber ossos de carne para matar a fome. Segundo relatos de quem estava ali, o número de pessoas que buscam este tipo de produto para se alimentar tem crescido. O açougue, que distribui os ossos há dez anos, diz que isso acontecia antes apenas uma vez por semana e, agora, são três. A crise provocada pela pandemia só fez a fila crescer.
Além disso, também se registrou uma alta na procura por alimentos mais baratos como os fragmentos de arroz, (grãos quebrados no processo, que eram separados para virar ração de animal e que também são indicados para receitas de sopa e caldos), isso porque o pacote de arroz com 5k,chega a custar R$ 40 em algumas regiões do país. Para fugir da fome, partes de animais antes descartadas, como pé de galinha, cabeça e cristas estão de volta à mesa de muitos brasileiros.
Fim do auxílio e aumento na demanda dos alimentos são fatores que resultam na alta dos preços
A economista Elinne Val, avalia que a alta no desemprego e a pandemia agravaram ainda mais a situação. “Quando observamos o índice de inflação, os alimentos chamam a atenção por sua escalada, facilmente sentida nos supermercados, sobretudo, arroz, feijão, óleo vegetal e carnes, que é a base do alimento do nosso cotidiano. Assim, na comparação anual, percebe-se que quem tem puxado essa alta é a categoria de alimentação no domicílio que subiu 15,3% na comparação com junho de 2020”, pontua.
A economista destaca ainda a necessidade da manutenção do auxílio emergencial. “Esta combinação enseja mais amparo do poder público e por isso a necessidade de estender o auxílio emergencial, por exemplo”, detalha. Ela explica que a causa da inflação dos alimentos tem fundamento no aumento da demanda mundial por alimentos: “Isso faz o Brasil exportar mais e a um preço mais vantajoso para os produtores, e por outro lado, há forte estiagem que prejudica a safra”, explica.
Outro ponto que influencia é a alta no preço dos combustíveis, que tanto encarece os custos de logística, quanto fez com que aumentasse a produção de biodiesel e etanol, em detrimento do açúcar e direcionando parte da produção de soja e milho para empresas de energia. “Em paralelo, é preciso dizer que esta situação de preços em elevação para alimentos não é exclusividade do Brasil. O índice global de preços dos alimentos, publicado pela FAO, aponta para um aumento de 33,9% na comparação com junho de 2020. A tendência é que este preço continue a subir ainda por algum tempo”, finaliza Elinne.
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