Após uma luta de mais de 120 anos da comunidade ribeirinha-brejeira Salto I e II, no município de Bom Jesus (616km de Teresina), os moradores receberam, no dia 27 de agosto, o Título Coletivo de Propriedade de Terra. Este é o documento que delimita e reconhece o espaço como posse da população da localidade. Entretanto, as ameaças e intimidações feitas por grileiros e fazendeiros persistem para que moradores saiam da região e dê espaço ao agronegócio que cresce na região da fronteira agrícola do país, conhecida como MATOPIBA.
A líder da comunidade Salto, Reginalda Santos da Silva, explica que as ameaças acontecem desde 2011, quando os moradores começaram a povoar a localidade. No entanto, dois dias após a entrega do Título Coletivo e a placa ser hasteada pelo Instituto de Terras do Piauí (Interpi), uma mulher destruiu a placa e procurou a residência de Regina para alegar que parte do território pertencia a ela.
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Segundo a líder comunitária, todo o perímetro da comunidade passou por dois anos de estudo e georeferenciamento – constatando que a região pertencia aos moradores da comunidade. No dia seguinte à conversa, conta Regina, a mulher e dois homens armados com facão e rifle voltaram ao local e queimaram a placa. “A gente pensou que pudesse ter sossego depois dos títulos, mas o assunto tá só crescendo”, conta. “Não querem aceitar que ganhamos”.
Moradores das comunidades vizinhas, como a comunidade Monte Alegre, são constantemente sondados por grileiros na região pelas terras e pela movimentação da população pelo direito do território, explica Reginalda. Por representar a comunidade, a líder comunitária sente receio pela sua vida, a do marido e da filha. Assim como a sua casa, todas as moradias da região são casas de taipa, que podem ser facilmente destruídas por incêndios ou ação de tratores. Apesar das intimidações, nenhum grileiro ou fazendeiro apresentou documentação que comprove a posse do local.
A Comunidade do Salto se tornou a primeira comunidade tradicional ribeirinha-brejeira a receber o Título Coletivo outorgado, pela Lei nº 7.294/19, que normatiza e reconhece terras de comunidades tradicionais formadas por quebradeiras de coco, pescadores e vaqueiros. “Estamos aqui por direito, não merecemos ter medo ou morrer por eles”, diz Reginalda.
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