“Dizem que é difícil viver da arte, mas para o artista o difícil é viver sem ela”, a frase é do senhor de cabelos grisalhos que, com olhar atento e apreciador, supervisiona todas as tardes seu antigo mural ganhar novas cores. Nonato Oliveira comanda a restauração do painel “Turismo no Piauí” – um muro de 18x19m localizado na avenida Marechal Castelo Branco.
Nonato tem 72 anos e quase todos eles dedicados ao muralismo. Fala, com brilho no olhar, sobre a importância da revitalização de sua obra. Para ele, a arte é feita para as pessoas verem, por isso se diz um artista do povo. “Quando fiz essa arte eu queria que o povo visse o Piauí inteiro em uma tela”, revive. “Eu sinto que estou fazendo ele de novo, bonito como era antes”, diz.
O painel faz parte do Centro de Convenções e foi produzido em 1994, na época, com financiamento da Secretaria de Estado do Turismo. A revitalização do mural faz parte da reforma do espaço, com previsão para ser reinaugurado em março de 2022.
O trabalho de revitalização, sob o comando do próprio autor, está sendo realizado pelo artista urbano Washington Gabriel, o WG, e mais outros seis grafiteiros. No início dos anos 90, Nonato também contou com a ajuda de quatro pessoas. “Hoje é mais fácil, naquela época usávamos andaime e eu ia com a gilete esculpindo o muro”, relembra.
“Nonato entrou em contato com a gente através do filho dele e propôs fazermos a restauração”, diz WG. “A gente se conheceu quando eu pintava uma vez os pilares do metrô e ele ficou observando a velocidade com que a gente, do grafite, pinta”, segue explicando. “Nonato ficou impressionado com o tempo e a precisão do traço, penso que achou adequado”. Após o primeiro contato, os grafiteiros fizeram pesquisa de produtos para a restauração e o trabalho começou, com Nonato coordenando e comandando a paleta de cores.
Com a reforma, o painel reviverá as cores originais utilizando novas tintas de alta tecnologia para maior preservação da pintura – sobre a tinta, algumas camadas de verniz devem ser colocadas para permitir maior durabilidade das cores e preservação do desenho.
“Teresina me apresentou as cores”
Raimundo Nonato de Oliveira, mas conhecido como Nonato Oliveira, nasceu no município de São Miguel do Tapuio, a 22km de Teresina. Foi lá que iniciou desde cedo o trabalho com arte, sempre representando figuras como o povo nordestino e sua natureza. O artista aproveitava as sobras dos materiais de construção deixados por seu pai, que era pedreiro, para desenhar figuras nas paredes.
“Meu pai estava fazendo o reboco da casa, eu peguei uma fatia do cimento e fui desenhar as pessoas e os pássaros que eu via no interior”, relembra. “Foi assim que eu comecei”.
Em 1945, Nonato e a família mudaram para Teresina – foi na capital que começou a entender e conhecer muitas coisas com as quais, até então, nunca havia tido contato. Uma das lembranças mais marcantes para ele foi quando viu as cores pela primeira vez. “Eu vi uma parede de uma casa toda colorida, e foi aí que conheci as cores”.
Nonato Oliveira tem murais espalhados por todo o Brasil e também pelo mundo: Fortaleza, São Luís, Belém, Goiânia, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Madri e Lisboa. Em Teresina, suas obras são consideradas a cara da cidade e já fazem parte do patrimônio histórico. Além dos murais, espalhados de norte a sul, ele assina obras e esculturas como a “Cabeça-de-cuia e as sete marias virgens”, um cartão-postal símbolo do parque ambiental Encontro dos Rios.
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