As federações partidárias ainda nem se firmaram e já começaram a ter seus embates. O Cidadania, partido do atual pré-candidato ao governo do Piauí Washington Bonfim, aprovou, em fevereiro, uma aliança com o PSDB. Em entrevista à CNN, Roberto Freire, presidente nacional do Cidadania, afirmou que a federação para as eleições de 2022 deverá ser organizada antes mesmo de 31 de maio – prazo final para os partidos se unirem.
Na última quinta-feira (17), circulou em grupos de WhatsApp, que o pré-candidato Sílvio Mendes havia divulgado que o PSDB – através de seu presidente, Bruno Araújo – iria apoiar seu nome na eleição estadual. Acontece que Silvio está de saída do PSDB e deve se filiar, já na segunda-feira (21), ao União Brasil.
Bruno Araújo será o presidente da Federação entre PSDB e Cidadania. Entretanto, no campo local, Washington Bonfim é pré-candidato ao governo do estado e, por se tratar de uma nova regra eleitoral, os tucanos devem apoiá-lo – e não a Sílvio Mendes, que em breve migrará para outro partido.
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Fidelidade partidária
As federações partidárias são equiparadas a partidos políticos — elas podem, inclusive, celebrar coligações majoritárias com outros partidos políticos, mas não os partidos integrantes de forma isolada.
A lei prevê que todas as questões de fidelidade partidária aplicadas a um partido se aplicam também à federação — o que significa que, se o Washington Bonfim é candidato da federação (PSDB e Cidadania), os dois partidos são obrigados a apoiar a sua candidatura. Quem não apoiar está sendo infiel a federação, ato passível de punição.
Em entrevista a um site local, o presidente do Cidadania, Roberto Freire, rebateu as declarações de Silvio Mendes, afirmando que essa conversa já está defasada e ocorreu no tempo em que Sílvio Mendes ainda não tinha pretensão de sair do PSDB. “É regra, quem estiver na federação vai votar no candidato definido pelo grupo”, disse Freire. “E nosso candidato é o Washington Bonfim”.
As federações deverão ter um estatuto, assim como um partido político, com a finalidade de disciplinar questões como a fidelidade partidária. Esse documento deve prever eventuais punições a parlamentares que não seguirem a orientação da federação numa votação. A expulsão de um parlamentar do partido não implica qualquer prejuízo para o mandato, mas pode prever o desligamento voluntário e sem justa causa.
Washington Bonfim disse ao oestadodopiaui.com que o fato é completamente fora de propósito para um pré-candidato a governador. Ele destacou ainda que toda essa movimentação mostra a envergadura da sua proposição como pré-candidato, mostrando um incômodo em determinados núcleos políticos. “Estou tranquilo, seguindo meu caminho, discutindo com a população sobre os problemas que, de fato, são reais no estado”, disse.
O mestrando em ciências políticas e pesquisador na área de democracia, comportamento político e cidadania, Silvio de Freitas, analisa a estratégia de Silvio Mendes como equivocada – mesmo que a intenção tenha sido fortalecer uma decisão favorável a ele, pois o PSDB oficialmente nunca se posicionou sobre o assunto.
“Isso acaba criando um desconforto dentro da federação a âmbito nacional, não só estadual”, diz o cientista. “Já estamos próximos das eleições e se iniciam entraves dentro do próprio grupo, mostrando que, de certa forma, há uma grande dificuldade de se articular e de fazer arranjos eleitorais”, analisa.
Sobre a candidatura de Washington Bonfim, Silvio afirma que, até o momento – analisando as pesquisas quantitativas que transitam entre 2 a 5% – ela provoca um certo incômodo no grupo de Ciro Nogueira (PP), uma vez que propõe uma pauta bem definida, inclusive nacionalmente, não apoiando nem Bolsonaro nem Lula. “A candidatura de Washington consegue transitar bem nos setores de centro-esquerda e centro direita”, observa. “Já a candidatura do Silvio Mendes é um paradoxo, pois o principal líder desse projeto, a nível de estado, é o ministro da Casa Civil de Bolsonaro”.
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