Em entrevista para uma rádio de Curitiba na manhã desta quarta-feira (22), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) confirmou que o político piauiense Ciro Nogueira (PP) assumirá o ministério da Casa Civil. A indicação representa uma aproximação entre o senador e o chefe de estado que, além de acentuar a adesão do Governo Federal ao presidencialismo de coalizão – artifício político que consiste na distribuição de cargos entre partidos em troca de apoio no Congresso -, na visão de cientistas políticos impacta também na disputa das eleições para o Governo do Piauí.
Ciro é cotado como o principal adversário político nas eleições estaduais piauienses de 2022 contra o candidato a ser definido e apoiado pelo atual governador, Wellington Dias (PT), que até o momento especula-se ser o secretário de Fazenda, Rafael Fonteles. Assumindo o ministério, a vaga de Ciro Nogueira no Senado será ocupada pela sua mãe, a suplente Eliane e Silva Nogueira Lima.
A Casa Civil é o órgão responsável por assessorar as atribuições do Governo Federal, coordenar grandes projetos, além de integrar ações. Caso Ciro assuma, o político terá mais acesso a recursos políticos e financeiros, algo que, na opinião do cientista político Vitor Sandes, é um ponto crucial no momento de escassez para prefeitos no Piauí. “Ele passa a ser uma fonte de contato direto ao Governo Federal que pode gerar retorno político nas eleições estaduais no próximo ano”, analisa.
Por outro lado, há um custo nesta união, já que o executivo tem aumentado a desaprovação popular devido à sua atuação ineficaz no enfrentamento ao combate a Covid-19 ee desempenho econômico. “Esse vínculo também gera um ônus que ele terá que carregar nas eleições”, finaliza Vitor.
Assumindo a Casa Civil, Ciro Nogueira cumpre o papel da conhecida figura tradicional da velha política brasileira que tem ganhado espaço no Governo Federal que, ao mesmo tempo, tem substituído militares em troca de apoio, um papel exercido de forma recorrente ao longo de anos e outras gestões pelo político piauiense. Em eleições anteriores, o senador participou da base de apoio lulista até 2018. Ananda Marques, mestra em Ciência Política, avalia essa situação como típica do Centrão. “A política que ele faz não deve ser subestimada. O papel dele não é o de defender o bolsonarismo mas, sim, um cálculo racional e estratégico para ter ganhos com a negociação“, comenta a especialista.
Ciro é o segundo piauiense indicado por Bolsonaro para ocupar um cargo de chefia, junto com Kássio Nunes, que foi indicado para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro de 2020. Essas alianças representam uma busca por sustentação e apoio ao governo Bolsonaro contra o avanço no Congresso de um possível impeachment.
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