É o segundo ano consecutivo sem as tradicionais quadrilhas juninas que, no Nordeste, mais do que colorir e enfeitar as festas que homenageiam os santos do período, também servem para alavancar a economia de muitas famílias. Sem grandes eventos presenciais, a oportunidade de venda de ambulantes e barraqueiros gerou diminuição de renda para muitos trabalhadores autônomos.
Selina Freitas, 52, sempre trabalhou com a venda de lanches. Ela é conhecida por ter uma banquinha na Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Petrônio Portella, há cinco anos. De ônibus, Selina saía toda manhã da Vila Irmã Dulce, bairro em que mora, até a universidade. Por lá, bolo no pote, suco e arrumadinho figuram entre os lanches mais procurados. Este era o seu único trabalho.
Com a chegada da pandemia e com as aulas da UFPI acontecendo de forma remota, Selina tentou vender em casa, mas não teve êxito. Para ela e a família, a chegada do período junino representava uma possibilidade de aumentar a renda. “A gente podia fazer comidas típicas e ir para os lugares, como a Potycabana, porta de escolas, nas ruas”, relembra. “Com essas festas a gente conseguia dinheiro”.
Selina tentou adaptar as vendas para o formato delivery, com a ajuda de um motoboy. Os pedidos foram poucos e as taxas de entrega não compensavam. “Não tenho onde vender e parece que as pessoas estão mesmo é sem dinheiro”, reflete ela que, ao lado dos dois filhos, vive a partir do salário do marido, Adalberto Alves, que trabalha em uma gráfica.
Uma pesquisa levantada pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais – CEPRO, sobre o mercado de trabalho no Piauí, apontou que a informalidade no 4º trimestre de 2020, foi de 59,1%. O Piauí ocupava a terceira posição mais alta entre os estados, atrás apenas do Maranhão (60,2%) e do Pará (59,6%). O mesmo relatório mostra que a taxa de desocupação do primeiro trimestre deste ano é a mais alta desde 2012.
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Teresina, através do gerente de planejamento, Fábio Camelo, informou que não há dados específicos sobre a renda de vendedores ambulantes e sua situação social no atual contexto da pandemia, mas que já estão em movimentação para este fim.
Francisco de Sales, 63, viaja há mais de duas décadas atrás de festejos juninos em muitos municípios nesta época do ano. No cardápio, ele e a esposa Maria Eunice não deixam faltar as comidas típicas mais procuradas pelos clientes, como paçoca, maria isabel, creme de galinha e mingau de milho.
O casal possui um estabelecimento de comida regional no bairro Mocambinho, zona Norte de Teresina, mas era com a venda em eventos como arraiás e festivais de quadrilhas que completavam a renda. “Mesmo com a pandemia eu consigo me sustentar sim, mas a gente tem que fazer um grande esforço, já que não tem outra alternativa no momento’.
0 comentário