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Cultivo de cannabis ainda é tratado com preconceito no Piauí, diz advogado

Mais de 200 famílias conseguem permissão judicial para cultivar maconha com fins medicinais no Brasil

26 de agosto de 2021

Segundo dados da Rede Reforma, atualmente cerca de 200 pessoas no Brasil conseguiram na justiça permissão para cultivar maconha em casa e extrair da planta o óleo CBD – cannabidiol – para fins medicinais. De acordo com o advogado e representante do Piauí da Rede, Wesley de Carvalho, as permissões funcionam como habeas corpus preventivos, uma vez que é proibido no país o plantio da Cannabis, com pena de 5 a 15 anos de reclusão.

A redução dos efeitos colaterais causados por remédios tradicionais durante o tratamento faz com que pacientes procurem a justiça para poder cultivar a planta em casa. Sem dados específicos sobre o quantitativo de pessoas que conseguiram ou tentam a permissão no Piauí, Wesley destaca que o tema provoca a mobilização de várias famílias no estado que lutam para reivindicar o uso no tratamento de depressão, epilepsia, ansiedade e endometriose.

Mas o assunto ainda é tratado com preconceito e falta de conhecimento. Wesley destaca que a intenção não é transformar o óleo da cannabis em um “elixir dos deuses” ou substituir remédios tradicionais, mas reconhecê-la como uma medicina eficiente para combater doenças de tratamento invasivo. “Nossa região ainda é muito provinciana. Assuntos que envolvem drogas acessam a população sem informações necessárias para entender que plantas como a maconha são assuntos de saúde”, pontua.

Em junho de 2021, a Câmara dos Deputados analisou o Projeto de Lei 399/15 que aprovou a legalização do cultivo no Brasil para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais da Cannabis. “Pacientes que anteriormente tomavam cerca de 10 remédios diferentes, hoje, tomam apenas o óleo e notam um avanço maior do tratamento do que com os fármacos tradicionais”, comenta o advogado. Pelo alto valor do óleo, que é importado de países do exterior, algumas famílias também entram na justiça para que o governo faça o custeio do tratamento. 

João Paulo e Vanessa Lopes conheceram o remédio quando Theo, aos três meses de idade, começou a apresentar convulsões e crises epiléticas. Quando foi diagnosticado com síndrome de West, o recém nascido foi submetido a cinco anticonvulsivos com fortes efeitos colaterais. O pai da criança explica que, apesar dos remédios, Theo chegou a ter 200 espasmos em apenas uma tarde. Pesquisando por um tratamento menos invasivo e que surtisse mais efeito nas crises da criança, uma médica naturopata de Teresina indicou o uso do CBD. 

Hoje, com mais de seis meses de tratamento à base de cannabidiol, Theo tem raras crises epiléticas e reduziu para dois o número de remédios para conter as convulsões. Entretanto, por conta da burocracia e o alto preço do óleo, a família entrou na justiça para poder cultivar a Cannabis em casa e fazer a extração de forma artesanal. “Para ter o direito de ter uma planta a gente tem que enfrentar uma guerra”, reclama João. “Por conta de uma cultura que entende a maconha como porta de entrada para outras drogas”, diz sobre a dificuldade que enfrenta judicialmente no Piauí. “É um fato que o remédio funciona. O tratamento do meu filho é outro depois do uso do óleo”, detalha.

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