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Cultura de paz na periferia

Entre cinema e cursos profissionalizantes, projeto MP3 oferece cultura e oportunidades para jovens da periferia em Teresina

07 de outubro de 2021

“A escola pública não ensina a juventude a ser líder, a particular prepara desde criança”. A frase, dita pelo fundador e coordenador do ‘Movimento pela Paz na Periferia’ (MP3), Francisco Júnior, diz muito sobre a perspectiva de vida que se apresenta para o jovem da periferia. Ao longo dos tempos, a juventude enfrentou muitos estigmas, por estar associada a uma fase cuja complexidade se ressalta – um período que antecede a fase adulta e costuma ser marcado pela ‘impulsividade’. Todos esses aspectos se potencializam quando a condição de classe se apresenta como elemento capaz de promover uma (arbitrária) diferenciação entre esses jovens, tomando por referência um modelo estrutural que, historicamente, segrega a juventude periférica.

O movimento MP3 surgiu com o objetivo de apresentar novas perspectivas à juventude da periferia mas, principalmente, os que cumpriam medidas socioeducativas ou provindos do sistema penal. A ideia era permitir que eles pudessem transformar e recomeçar suas vidas. “A maioria dos jovens que chegava aqui não vinha em busca de ser protagonista de sua história ou de sua comunidade, e sim em busca de salvar sua própria vida”, relembra Júnior. “Para eles, era a última chance”. 

O projeto nasceu em 1998, com idealização de Francisco Júnior, Frei Leandro e um grupo de amigos, que inicialmente fundaram o primeiro cursinho pré-vestibular para jovens da periferia. Em 2004, o grupo ganhou uma sede própria e passou a contar com uma estação digital – hoje já formou mais de 13 mil jovens. “Desde então, as nossas ações são voltadas para profissionalização e empregabilidade das juventudes da periferia”, explica o fundador. O projeto realiza cursos de montagem e manutenção de computadores, informática e robótica, além de aulas de educação de jovens e adultos.

Para tentar manter o projeto funcionando, a ONG conta com doações e colaboradores. Equipamentos eletrônicos como monitores, televisores, telefones e impressoras com defeitos são consertados pelo próprio grupo e reutilizados pelos alunos dos cursos.

 

Oficina onde é realizada a triagem dos aparelhos que serão reutilizados.

O projeto MP3 foi escolhido como um dos 11 melhores projetos sociais do país pela campanha “Carinho inspira carinho”, promovida pela Jonhson e Jonhson. Outro O projeto Cine Periferia, do MP3, também foi contemplado, em 2012, com o Prêmio Anu Preto, que reconhece as melhores ações de inclusão social no Brasil. O prêmio é um reconhecimento da Central Única das Favelas (CUFA) a ações desenvolvidas dentro de favelas de todos os estados brasileiros que contribuam para o desenvolvimento humano e social.

Cine Periferia 

Já conhecida pelos moradores de alguns bairros, a kombi do projeto Cine Periferia está de volta às ruas de Teresina. A cada noite, chega anunciando o filme e o local da sessão nos alto-falantes, para depois parar em uma praça ou região central onde o cinema – sempre ao ar livre – é montado. Um telão é fixado na lateral do veículo para a projeção. Em seguida, os moradores vão chegando, alguns com suas próprias cadeiras e tamboretes, para esperar o filme começar.

 

(Foto: arquivo pessoal)

As sessões são sempre gratuitas e proporcionam um momento coletivo de lazer e entretenimento para comunidades onde há pouca ou nenhuma oferta cultural. Mas há outro objetivo: conhecer a comunidade e identificar quais os problemas existentes para a ONG prestar um apoio posterior. “Através do cinema eu consegui atrair muitos jovens para o MP3”, revela Júnior. 

Foi o caso da voluntária Ana Maria, que conheceu o MP3 em 2004, aos 23 anos, quando o Cine Periferia estacionou no povoado Salobro, zona rural de Teresina, onde ela morava. Através desse primeiro contato pôde conhecer e realizar cursos ofertados pelo Movimento. “O MP3 significa oportunidade, pois pude crescer profissionalmente, mas também como pessoa”, diz. Através do MP3 Ana conseguiu acessar o ensino superior em uma universidade – algo que, para muitos jovens da sua região, parecia impensável. Hoje ela desempenha o papel de educadora na sala de inclusão digital e é tesoureira, mas já ocupou o cargo de presidenta da instituição. 

O projeto cine periferia funcionou de 2006 a 2012 com apoio do Banco do Brasil. Após o fim da parceria, a ação foi descontinuada por um período, com falta de verbas e estrutura. Para o mês de outubro está previsto um retorno, com a ajuda de parceiros do MP3 – o projeto já possui uma lista extensa de bairros a percorrer por toda a capital.

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