De quatro em quatro anos, a população é convocada às eleições. Na Câmara dos Senadores, a cada quadriênio, a atualização das três cadeiras acontece de forma diferente: ⅓ primeiro, ⅔ depois – a chamada renovação parcial. Neste ano, o Piauí tem sete opções de candidatos, mas somente um deles deve ser eleito. A vaga hoje é ocupada por Elmano Férrer, que decidiu não concorrer à reeleição, mas segue em direção à vaga na Câmara Federal neste pleito.
Em comparação a anos anteriores, a concorrência para o Senado caiu no Piauí. Na última disputa, havia 18 candidatos: uma concorrência de nove pessoas por vaga, o maior número da história. Em 2014, foram seis candidatos e, em 2010, 13 candidatos. No ano de 2006, quando apenas uma vaga foi disputada, o estado registrou nove candidaturas.
Na corrida atual, sete nomes disputam. São eles: Albetiza Moreira (PCO), Don Lotti (Patriotas), George Magno (PSOL), Gervásio Santos (PSTU), Wellington Dias (PT), Professor Ajosé (PMN) e Joel Rodrigues (PP). Recentemente, Fábio Sérvio, do Podemos, desistiu de sua candidatura. O oestadodopiaui.com reuniu um compilado de informações sobre os candidatos:
Entre a foice e o martelo
Albetiza Moreira, de 53 anos, é natural de Teresina. Ela é do mesmo partido da candidata ao governo, Lourdes Melo, o Partido da Causa Operária (PCO). Para sua campanha, ela aposta no levante popular como saída para o fim dos conchavos e partidos tradicionais no poderio econômico – os quais, segundo elas, fazem uma grande mágica, com propostas e programas de governo fantasiosos, mas que na verdade mantêm os trabalhadores com seus problemas de sempre. Ela também acredita que o partido não tem condições de elegê-la e justifica a falta de estrutura econômica, a mesma que sustenta os colegas de disputa. Mas isso não parece afetá-la, porque de todo modo, a vaga à qual concorrerá no Senado, para a comunista, é uma expressão de oligarquias e a casa um “sarcófago de múmias” com apenas um objetivo: “votar contra os trabalhadores”.
O rei do gado
Don Lotti não é piauiense. Mora no estado há apenas seis anos, mas já foi vereador no Paraná, onde nasceu. Filiado ao Patriotas, o agropecuarista se posiciona na disputa contra dois rivais: Wellington Dias (PT) e Joel Rodrigues (PP) – e parece ignorar os outros na corrida. Don Lotti é bom de lote: ele possui 21 hectares de terras em Timon (MA) e 10,2 hectares no Piauí. Ao todo, são mais de 310.000 metros quadrados, equivalentes a 28 campos de futebol com tamanhos padrões estabelecidos pela FIFA (Federação Internacional de Futebol). E, claro, robustas cabeças de gado, ao menos 97 declaradas no detalhamento de bens para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Não à toa, ele é o candidato do agronegócio. E promete ao setor: no seu mandato, caso eleito, o agro será cada vez mais pop e cada vez mais tech.
O candidato das minorias
George Magno é o candidato do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). Ele é advogado e mora em Piripiri, norte do estado. Como Albetiza, ele também não acredita em uma vitória do seu partido na corrida pela cadeira de Elmano no Senado. “Esse sistema não é feito para partidos como o PSOL ganharem destaque”, declarou nas redes sociais. No entanto, caso seja eleito, promete trazer mudanças para o Congresso Nacional. E um dos seus focos será combater o orçamento secreto que, sem renovação no Congresso, permanecerá. Naturalmente, George segue a tendência do partido e suas bandeiras: defende as comunidades tradicionais, pretos e pardos. Até agora, também parece ser o único candidato que fez a lição de casa quando o assunto é gênero, raça e sexualidade – seja por herança do partido, ou por sua bagagem cultural.
Na condução da revolução
Nesta corrida ao Senado, Gervásio Santos, do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), também é um candidato que levanta a foice e o martelo marxistas. Ele apresenta propostas como a suspensão do pagamento da dívida ativa do estado, direcionamento da produtividade de grãos voltado para as famílias do Piauí – para ele, o estado produz grãos para os países desenvolvidos, mas pouco se pensa nos pequenos produtores. Também defende uma reforma agrária e urbana urgente. “O capital consegue lucrar até mesmo na miséria. Na crise sanitária tivemos 40 novos bilionários no Brasil”, afirmou criticando o capitalismo durante a pandemia. Ele também concorreu à prefeitura de Teresina, nas eleições de 2020. Curiosamente, disputando com o irmão, Kléber Montezuma. Ambos habitam campos políticos opostos. Enquanto Montezuma era secretário de educação, Santos era professor da rede municipal. “Ele é o patrão e eu sou o trabalhador”.
O cacique do PT
Em entrevista à Cidade Verde, a governadora Regina Sousa foi questionada sobre uma nova leva de petistas filiados neste ano. Ela explicou que não eram novos “petistas”, mas novos filiados. “Petista se faz com história”. É o caso de Wellington Dias, chamado por aliados e adversários de “índio” – seja pelos seus traços, ou pelo corte de cabelo característico. Carinhosamente ou não, Dias é uma espécie de líder dos petistas no Piauí. Ou melhor, um dos caciques. Em setembro de 2020 foi eleito, por unanimidade, presidente do Consórcio Nordeste, uma articulação entre os nove estados da região. Durante sua gestão, pensou políticas de saúde para conter a pandemia da Covid-19. No estado onde nasceu já foi vereador, senador e governador. Ele cedeu a cadeira no Palácio do Karnak para sua vice, Regina, e agora tenta concorrer ao Senado mais uma vez, enquanto apoia Rafael Fonteles, também do PT, para o cargo de governador.
O candidato do Ciro, do Bolsonaro não
De Floriano, Joel Rodrigues (Progressistas) largou o cargo de Prefeito para concorrer ao Senado. A campanha oficial começou neste mês, mas desde o ano passado ele caminha pelo Piauí ao lado do ministro Ciro Nogueira, inaugurando ou anunciando obras. Foi em uma dessas comitivas que, no dia 5 de dezembro, a turma de Nogueira foi expulsa de uma comunidade quilombola em São João da Varjota, durante a inauguração de uma Unidade Básica de Sáude (UBS). Rodrigues estava lá. O seu candidato ao governo, Sílvio Mendes, gosta de ressaltar que, com Rodrigues, a equipe fica mais diversa: “temos até uma mulher e um negro”, declarou à mídia em entrevista.
Não é a primeira vez que Mendes encena uma fala preconceituosa. Durante sabatina na televisão, ele se referiu à jornalista Katya D’Angelles como “quase negra”. Na disputa, Joel entra como o principal oponente de Wellington Dias, ex-governador do Piauí, marchando ao lado de Sílvio e Iracema Portella. O trio tem um desafio: se desvencilhar do bolsonarismo impregnado em Nogueira, seu principal articulador. Tarefa difícil com Lula de volta ao páreo. No Piauí, o petista lidera com folga contra o seu principal oponente ao governo federal. Mas Joel segue tentando, e já afirmou ser neutro quanto à corrida à presidência. Recentemente, ele (re)afirmou ser fake news qualquer vinculação dele com o atual presidente.
A pedra no meio do caminho
Pouco conhecido nos bastidores da política, Professor Ajosé, do Partido da Mobilização Nacional, lançou seu nome ao Senado. Ele é professor, escritor e cineasta, segundo sua biografia nas redes sociais. Em julho, Ajosé havia desistido de concorrer ao Senado, por questões pessoais. Mas voltou atrás e agora está novamente na disputa. Ele faz parte da chapa majoritária da legenda, que tem como candidata ao governo a advogada Ravenna Castro. Essa é conhecida nas redes sociais pelas polêmicas e debates calorosos na televisão aberta. Surge como uma terceira via, entre Rodrigues e Dias. E afirma, citando Carlos Drummond: “eu sou a pedra no meio do caminho”
O outsider prematuro
Até o começo de setembro, Fábio Sérvio estava no pleito ao Senado, pelo Podemos. Ele faz parte de uma leva de candidatos cujo discurso tem foco no combate à corrupção e nos conchavos políticos. Sérvio renunciou à candidatura justificando a falta de apoio partidário na sua campanha e de estrutura para abater seu principal rival: “Eu abri mão da minha candidatura, mas não abri mão de combater o Wellington Dias”, disse em suas redes sociais. Sua postura combativa lhe trouxe visibilidade, mas também intempéries. Ele era dono do extinto jornal Diário do Povo, que fechou alegando dificuldades financeiras. Fábio justifica que as dificuldades foram causadas pelo próprio governo estadual, que cortou verbas direcionadas ao veículo de comunicação. Ele considerou retaliação por parte de Dias, por conta de contínuas denúncias feitas pelo veículo sobre sua gestão. “Até hoje pago o preço disso”, ressaltou à reportagem. Mas, se ao mesmo tempo Sérvio deslanchou como ‘outsider’ na política, essa fama também parece ser prematura. Agora, ele declara apoio a Sílvio Mendes no governo e Joel Mendes no Senado – ambos apoiados por Ciro Nogueira. Há alguns anos, Sérvio disse que Nogueira tinha a “cara limpa e mãos sujas”, contaminado de velhas práticas e uma política envelhecida. Nas suas redes e nas ruas, ele ainda pede voto, mas agora como candidato a deputado federal.
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