Quando chegou na entrada da 70° Edição da Feira Agropecuária do Piauí (Expoapi), realizada neste domingo (5), Maria Rita Araújo estendeu o cartão com duas doses de vacina. Entretanto, quase não recebeu atenção da equipe que controlava a recepção de pessoas no espaço – apesar da divulgação do evento revelar a exigência do comprovante vacinal. Ela e todas as pessoas que chegavam na entrada passavam sem dificuldades para um show que reuniu mais de 25 mil pessoas apenas no primeiro dia.
O Governo do Estado informou que o evento será um “teste” para que outros, com grande concentração de pessoas, possam ser realizados. A exposição, que conta com shows musicais, leilões e concursos de animais, tem a previsão de movimentar cerca de R$ 40 milhões em negócios com os pecuaristas.
No início deste mês, o Governo publicou um novo decreto dispondo sobre as medidas sanitárias que devem ser adotadas até o dia 2 de janeiro de 2022 para todo o estado. O decreto mantém a obrigatoriedade do uso de máscara, limitação do horário de funcionamento de bares e restaurantes e a proibição de eventos, confraternizações e atividades que possam gerar aglomeração – mas dá permissão para um maior número de pessoas em ambientes abertos, desde que seja respeitada a capacidade de 50% do local.
Leia mais: Com mudanças, novo decreto de medidas sanitárias é publicado com orientações até 2022
No caso da Expoapi, o evento garantia que o uso de máscara e não aglomeração seria uma das exigências do “evento teste”. Mas não foi o que as imagens e as testemunhas relataram. “Todo mundo sem máscara, sem fiscalização”, ressalta Maria Rita. “Inclusive, até os funcionários estavam sem máscara e também sem ninguém para restringir”, contou à reportagem.
Para o infectologista Nayro Ferreira, o momento não é de evento de nenhum porte – seja pequeno, médio e grande. Ele explica que os protocolos surgem como uma forma de liberar atividades sociais, entretanto, tem baixo resultado porque praticamente não há fiscalização – seja por equipes responsáveis como por parte da própria população negligente.
Leia mais: Em dois anos de pandemia, métodos ineficazes continuam sendo usados em locais públicos
Além disso, os protocolos não garantem que, dentro desses eventos, as pessoas vão ser barradas por infringir as determinações – isso porque, o que os eventos precisam é que haja pessoas circulando para o consumo. “Ninguém é impedido de entrar porque esqueceu o cartão de vacinação”, frisa. “A Covid-19 não faz diferenciação de quem tá dentro de uma piscina, na mesa de bar ou na Expoapi”, comenta Nayro.
O especialista reforça que o número de mortes está ascendente e isso preocupa os índices para o próximo ano. Nas últimas 24h, segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Piauí (Sesapi), seis pessoas foram vítimas da doença. “O vírus só precisa do nosso mau comportamento para circular e contaminar as pessoas”, frisa. “Sem adoção responsável das medidas, infelizmente, é possível entrarmos em um cenário ruim em 2022”, destaca.
0 comentário