Encontro, aproximação, junção, concentração, união – todas essas são palavras sinônimos para a expressão “confluência”. A palavra, por sua vez, foi escolhida para nomear uma proposta ousada dentro do cenário teatral piauiense: O Encontro Nacional Confluências do Teatro Brasileiro – que começa hoje (3) e vai até 6 de novembro, em Teresina.
Durante a programação, artistas locais e nacionais vão se reunir para realizar espetáculos, mesas de debates e oficinas sobre o teatro como expressão artística. A atividade é realizada pelo Coletivo Piauhy Estúdio das Artes que há 10 anos produz espetáculos Inicialmente, as atividades começaram tímidas, apenas no território regional – depois, algumas das produções circularam pelo Brasil, América Latina e África. “Esse momento nasce da necessidade de colocar o teatro no seu devido local de destaque e visibilidade”, destaca o produtor do encontro, Júnior Marks.
Na programação do Confluências está previsto a execução de oficinas, rodas de conversas e entrevistas que serão contempladas durante o evento. Além dos espetáculos, a realização do encontro é um momento para falar da arte como objeto de engajamento político. Na programação, por exemplo, há preocupação com arte feita e pensada por mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+ e outros grupos sociais invisibilizados socialmente.
Entre os espetáculos está a peça BR Trans, interpretada por Silvero Pereira – ator cearense que viveu Lunga – o cangaceiro queer do filme Bacurau (2019). Na obra, Silvero dá voz aos desejos, exclusão e vivência através de pessoas trans dentro dos palcos teatrais. Em entrevista para o oestadodopi.com, o ator destaca que a peça é uma reflexão sobre experiências marcantes na sua vida – e também uma forma de desbravar o cenário artístico como ferramenta capaz de quebrar preconceitos e dar voz para pessoas trans.
BR Trans nasceu do coletivo artístico “As Travestidas”, no qual, durante uma década, se engajou para quebrar preconceitos no estado onde nasceu. “Todos os espaços estão disponíveis para essa revolução”, destaca. “Quando o mercado começa a abrir a cabeça para artistas e técnicos diversos, ele abre processos para a evolução”, complementa. “LGBTQIA+ não quer e não sabe falar só sobre nós, somos aptos a qualquer assunto e estética”, finaliza Silvero.
Um respiro em meio ao caos
Nesta segunda-feira (1), discussões acaloradas sobre o momento que a arte e a cultura vivem tomaram as redes sociais após a entrevista do ator Wagner Moura ao programa Roda Viva, da TV Cultura. O artista, convidado para falar do lançamento do seu filme “Marighella” (estreia nacional nesta quinta-feira, 4) teceu várias críticas ao Governo Federal e aos constantes ataques do presidente Jair Bolsonaro ao setor.
Em dez anos, o orçamento destinado à Cultura foi reduzido em 50%. Para se ter ideia, em 2011, algo em torno de 3,3 bilhões era destinado ao Ministério da Cultura. Em 2021, após ter sido rebaixada para uma secretaria especial dentro do Ministério do Turismo, o orçamento foi reduzido para 1,7 bilhão.
Além dos cortes, o setor foi duramente atingido com a pandemia da Covid-19, quando foi preciso paralisar e suspender espetáculos e ensaios para conter o avanço do vírus. O retorno, apesar de lento e em meio às crises financeiras, vem sendo um respiro para público e artistas. “O nome do encontro não foi escolhido à toa”, relembra Júnior. “Existe uma força muito grande nas pessoas que querem fazer a arte acontecer no Piauí e no Brasil”, ressalta.
O produtor destaca a importância de lembrar que o momento ainda é de pandemia. O Confluências será realizado com um público reduzido, com as medidas de distanciamento e segurança sendo fiscalizadas. É necessário o comprovante de vacinação na entrada dos teatros.
“É um momento histórico. Temos passado por tempos sombrios, sem ver nossos amigos, sem poder apresentar, produzir”, conta Marks. “O Confluências é um respiro, um respiro cultural que a gente precisa para poder dar sentido aos tempos em que vivemos”, finaliza.
Confira programação:
Espetáculos:
- Abismos Entre 4 Paredes (Coletivo Piauhy Estúdio das Artes e Redemoinho de Dança – Direção: Adriano Abreu)
3 de novembro às 19hs – (Escola de Dança Lenir Argento)
- Joana Imaginária (LUME TEATRO e Silo Cultural – Direção: Carlos Simioni – Atuação: Vanda Mota)
4 de novembro às 19hs – (Escola de Dança Lenir Argento)
- Buraquinhos ou O vento é inimigo do picumã (Carcaça de Poéticas Negras – Direção: Naruna Costa -)
5 de novembro às 19hs – (Theatro 4 de Setembro)
- BR TRANS – (Com Silvero Pereira – Direção: Jezebel de Carli)
6 de novembro às 19hs – (Theatro 4 de Setembro)
Oficinas:
- O Estado de Ser do Ator (Carlos Simioni do LUME)
3, 4, 5 de novembro de 14h às 17h (Escola de Dança Lenir Argento)
- O Hip Hop Como Linguagem Cênica (Mulheres do Movimento Hip Hop de Teresina)
3, 4, 5 de novembro de 14h às 17h (Galeria do Clube dos Diários)
Mesas Redondas:
- Mulheres do Teatro – Luta e Empoderamento:
Provocação: Vanda Mota – Mediação: Silmara Silva
4 de novembro – 9h às 11h (Escola de Dança Lenir Argento)
- Teatro Negro na Contemporaneidade Brasileira:
Provocação: Naruna Costa – Mediação: Déborah Radassi
5 de novembro – 9h às 11h (Escola de Dança Lenir Argento)
- Teatro LGBTQIA+ – Perspectivas e Desafios:
Provocação: Silvero Pereira – Mediação: Datan Izaká
6 de novembro – 9h às 11h (Escola de Dança Lenir Argento)
Performance
- 1°Festival de Performances “Confluências” – (Corpo, Política e Tecnologia)
Entrevistas Ao Vivo
- “Confluências no Camarim com Junior Marks”
Show de Encerramento
- Encontro final entre público, artistas e organizadores.
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