Véspera de São João. Segundo ano de pandemia. Na data de 24 de junho, que marca a comemoração de uma das maiores festas populares do Nordeste, manter-se em casa ainda é a alternativa mais segura para evitar a propagação do vírus. Além do uso de máscaras e o álcool em gel como fiel acompanhante em todos os ambientes, os encontros com amigos e aglomerações ainda não são recomendados.
Entretanto, ainda que medidas restritivas tenham sido decretadas para evitar altas quantidades de pessoas em bares, restaurantes e festas, a presença da população nos estabelecimentos sem os devidos cuidados de distanciamento e segurança sanitária, ainda é frequente. No fim de semana, a Vigilância Sanitária de Teresina flagrou uma festa junina dentro de um estabelecimento privado na zona leste da capital, onde muitas pessoas estavam dançando – e quase todas sem utilizar máscaras.
Felipe*, 23 anos, que topou falar com nossa reportagem na condição de anonimato, estava confinado desde o ano passado, saindo de casa apenas para ir ao supermercado ou a farmácia. Agora, ele voltou a frequentar bares na procura por diversão. “Acho que a gente precisa viver e se relacionar com outras pessoas e isso, para mim, é uma coisa importante”, explica. “A gente passa a semana trabalhando e quando chega o final de semana eu quero respirar”, acrescenta, dizendo procurar sempre por saídas para espaços com pouca lotação.
A coordenadora de Epidemiologia do Estado, Amélia Costa, confirmou em abril a presença das variantes do coronavírus (P1, P2 e N9) no estado. Na época, além da alta taxa de transmissibilidade das novas cepas, começou a chamar atenção o deslocamento da faixa etária dos novos infectados: pessoas jovens.
Em Teresina, os casos de Covid-19 atingiram 23,39% de pessoas na faixa etária de 30 a 39 anos, seguido de jovens de 20 a 29 anos, com 19,37% dos casos positivos. A capital piauiense acumula hoje 99.275 casos confirmados e 2.482 óbitos, segundo Boletim Epidemiológico atualizado diariamente pela Fundação Municipal de Saúde.
Estatística que são de conhecimento do Felipe*, que ainda assim acredita na possibilidade de se divertir com segurança em barzinhos. “Vejo meu privilégio de ser uma pessoa sem comorbidade, mesmo sabendo que a nova cepa afeta jovens e que eles são os principais transmissores”, argumenta. “O único lugar que vou é em barzinho, com todo cuidado, e também sou contra e não frequento festas clandestinas”, encerra.
Bares e restaurantes, mesmo sugerindo uma sensação de segurança, são ambientes de alto risco de propagação da Covid-19. É o que aponta um estudo feito pelo Centro Europeu de Controle de Doenças (ECDC) que também indica que a infecção pelo vírus acontece principalmente em decorrência da suspensão de gotículas – os famosos aerossóis – transmitidas pela respiração, fala, tosse e espirro.
Para o infectologista Luciano Mourão, isso se justifica, sobretudo, em relação à conduta das pessoas nestes ambientes. “Estudos desenvolvidos em outros países apontam que o uso de bebida alcoólica deixa as pessoas mais desinibidas e isso faz com que elas não façam uso das máscaras e álcool em gel”, explica o médico. “Elas também se abraçam, ou seja: não conseguem cumprir com rigor as medidas de restrição”.
Situação comprovada na rotina do bartender João Victor Oliveira – ele conta que, apesar da diminuição do fluxo, decorrente da redução do horário de funcionamento do bar em que trabalha, diariamente é possível observar o não cumprimento das medidas de segurança por alguns clientes. “Temos áreas abertas, disponibilizamos distanciamento entre as mesas, mas as pessoas acabam juntando mesas e cadeiras”, comenta. “Teve períodos em que a fiscalização aparecia, mas era mais por conta do som alto que os clientes botavam fora do restaurante”, exemplifica o profissional.
Quantidade de notificações de estabelecimentos são reduzidas
Atualmente, de acordo com Larisse Portela, gerente de vigilância sanitária em Teresina, as autuações dos estabelecimentos têm reduzido bastante, especialmente em razão das ações educativas e, quando necessárias, punitivas do órgão. “Nossas equipes vistoriam vários ramos de atividades, sempre orientando e cobrando protocolos”, comenta. “A colaboração do empresariado e população geral aumentou bastante”, acrescenta Larisse.
Segundo a GEVISA, responsável pela fiscalização de estabelecimentos de funcionamento noturno, desde fevereiro até junho de 2021, foram contabilizados 205 autos de infração e 646 termos de notificação comercial. O mês com maior incidência foi março, totalizando 259, somado de autos e termos.
No Piauí, desde o estabelecimento dos decretos para a contenção da segunda onda da pandemia, entre os meses de fevereiro e maio, a Polícia Militar do Piauí realizou 60.122 atendimentos – 25.509 estabelecimentos foram orientados e 275 receberam termo circunstanciado de ocorrência por infração de medida sanitária.
Em razão da notificação de casos de Covid-19, o governo do estado segue prorrogando, semanalmente, as medidas restritivas para combater a disseminação do coronavírus. A suspensão de atividades que envolvam aglomerações, a proibição de festas e eventos, bem como o limite de funcionamento até as 23h de bares e restaurantes, estão mantidos até 27 de junho. Além disso, o decreto também determina que o comércio geral só deve funcionar até às 17h e os shoppings, das 12h às 22h, podendo antecipar para as 10h o horário de abertura, desde que obedeça às nove horas de funcionamento. O toque de recolher acontece das 14h às 5h da manhã.
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