Após quatro anos cursando Filosofia na Universidade Federal do Piauí (UFPI), Gabriel de Abreu, 24 anos, pensava apenas em uma coisa: mudar de estado. Ele queria aprimorar sua formação e buscar mais oportunidades de atuação profissional. Ao lado da esposa, o casal partiu para São Leopoldo (RS) em janeiro deste ano, e por lá ficou. Agora, ele estuda Teologia no Seminário Concórdia.
O seminarista é mais um dos 13,9 mil habitantes que saem anualmente do Piauí para viver em outros lugares, segundo Projeções da População 2018 do PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Assim como Gabriel, a maioria dos emigrantes é jovem, de 15 a 29 anos. Segundo Sônia Maria Souza, professora de “Geografia da População” no departamento de Geografia da UFPI, a migração é vista pelos jovens como algo natural e, por vezes, necessário para se alcançar o reconhecimento social e sucesso econômico.
As estimativas relacionadas aos dados no Censo 2010 com Estimativas da População de 2021 do IBGE, no último ano, contudo, não consideram as possíveis alterações decorrentes da pandemia nos fluxos migratórios. As implicações desses números serão verificadas a partir do próximo Censo Demográfico.
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O saldo migratório (imigração menos emigração) chegou a -3,81 no ano passado, ou seja, a cada mil habitantes, cerca de 3,81 deixam o estado anualmente. Ou seja, a cada ano que passa, tem mais gente indo embora do que vindo para o Piauí.
Como a maior parte dos emigrantes é jovem, o estado tende a “envelhecer”, tendo em vista a redução proporcional da população jovem em relação ao número de idosos. Esse é um problema, ao mesmo tempo demográfico e econômico. O envelhecimento populacional pode levar à falta de mão de obra e, consequentemente, diminuir as possibilidades de prosperidade do estado.
O envelhecimento demográfico, seja por emigração de jovens ou outros fatores, ocasiona uma redução da População Economicamente Ativa (PEA) – o número de habitantes aptos a trabalhar (geralmente composto por pessoas de 15 e 60 anos). Sobre esse impacto, Sônia Maria destaca o aumento dos gastos sociais públicos. Isso porque a população idosa depende de recursos relativos à previdência social, saúde e lazer. Sem uma população jovem para fomentar a força de trabalho e desenvolvimento econômico, não haverá um contrapeso na balança econômica.
Porém, uma série de medidas a longo prazo podem ser pensadas para garantir o bem estar da população jovem e idosa no futuro. A pesquisadora cita a melhoria da qualidade de ensino e geração de empregos, elementos cada vez mais valiosos para uma economia globalizada e competitiva. “Somente com investimento em educação e criação de postos de trabalho será possível definir estratégias para dirimir os fluxos migratórios e, ao mesmo tempo, alavancar a economia”, afirma Sônia Maria à reportagem.
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