sábado, 23 de novembro de 2024

“Manifestação representa desorganização do país”, diz representante dos motoristas

Dia da independência deixará tradicionais comemorações para dar espaço a manifestações políticas

07 de setembro de 2021

Edição Luana Sena

O feriado de 7 de setembro deixará as tradicionais comemorações pela Independência do Brasil para dar espaço às manifestações lideradas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) – mas também por opositores ao chefe do executivo. O ato está previsto para acontecer em todas as capitais brasileiras mas, em Brasília, é aguardada manifestações em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) em favor da liberdade de expressão e reivindicação do voto impresso auditável. 

No entanto, o tom agressivo e intimidatório afastou algumas categorias a participarem do ato pró Bolsonaro, principalmente após o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão – preso por ameaçar o STF no dia 3 de setembro – incentivar a categoria a parar o Brasil e fechar rodovias.

Para Humberto Lopes, presidente do Sindicato dos Transportadores de Cargas e Logística do Estado do Piauí (SindicaPI), a manifestação é uma espécie de “palanque político”. 

Segundo o presidente, as manifestações representam um atraso do país em resolver os problemas que o país vivencia, como a inflação nos alimentos e no preço do combustível. Humberto aponta que os caminhoneiros e carreteiros estão sendo utilizados pelos líderes desses movimentos como manobra política, uma vez que a classe possui um papel importante na circulação e distribuição de itens importantes para todo o Brasil. “Nossa categoria está sendo uma das mais afetadas com o aumento da gasolina e vejo que estamos sendo usados”, critica. “Nenhum de nós representa a desorganização que essa manifestação representa em meio à uma pandemia”. 

As manifestações e a crise da Covid-19 despertaram a preocupação do médico Pedro Cruz. Ele enxerga que o atual governo tem se mostrado relutante em aceitar as vertentes científicas adotadas durante a pandemia – e o incentivo às demais aglomerações de pessoas dificultam ainda mais o retorno do país a uma estabilidade no contexto de saúde pública. “Quando essas ações são incentivadas, a impressão que passa é de que ou nosso presidente é anti-ciência ou a população é anti-ciência”, avalia. “Enquanto cidadãos, principalmente os incluídos na categoria médica, não podemos aderir a esse discurso”, frisa.

De acordo com Pedro, a situação não atinge apenas a saúde física. Ele relata que recentemente chegou a atender um caminhoneiro que está com crises de ansiedade pela situação de instabilidade do país e da profissão, mas também pela convocação da categoria em comparecer às manifestações. O médico acredita que a manifestação de expressão é um direito inviolável mas que, neste momento, é necessário incentivar ao máximo o isolamento social para conter a circulação do vírus e suas variantes. 

PM cientista

Os estados brasileiros estão se preparando de diferentes formas para lidar com as manifestações que acontecem ao longo deste dia, 7 de setembro. Até o momento, os governadores do Piauí, São Paulo, Bahia, Paraíba, Espírito Santo, Maranhão, Amazonas e Roraima desautorizam a participação de policiais militares em quaisquer atos de natureza política e partidária no Estado. 

De acordo com o policial militar e cientista social, Stanley de Oliveira, a essência da PM seria manter a ordem. No entanto, a população não tem uma clara noção de qual ordem seguir, uma vez que o Brasil possui diferentes demandas em um país plural. Ele aponta que, atualmente, as corporações militares seguem para um extremismo conservador específico, que ele descreve como “abrasileirado” – tendo em vista que a ideia de conservadorismo do país é diferente da ideia tradicional experimentada em outros países. 

Para ele, uma forte característica da cultura brasileira é viver sob diversas emoções no cenário político e social. Essas “tensões” geram uma série de conflitos e, diante de um exagero de ideias, promove manifestações e desunião de pensamentos, culminando em manifestações simultâneas sobre determinado assunto, seja de forma pró quanto contrária. 

Outra característica brasileira que Stanley destaca está sendo bastante evidenciada no contexto político atual: a ideia de um salvador da pátria. Segundo ele, é uma herança histórica da falta de gestão cultural do país. “A gente procura um “mito” para suprir a necessidade de um salvador da pátria, um Messias com remédio para todos os males”, observa. “O povo compra uma ideia de um líder que possa resolver todos os nossos problemas e entramos nesses colapsos sociais”.

Ainda de acordo com Stanley, as manifestações soam como forma equivocada de trazer rapidez à solução dos problemas enfrentados pelo Brasil. Ele explica que o problema precisa de uma solução tal qual o problema é: estrutural. A saída passa por investimento na educação política para que a sociedade se sinta incentivada a se aprofundar nos problemas e trazer soluções. “Do contrário, a gente sai de uma crise e entra em outra”, finaliza. 

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