Na última segunda (30), o vice-prefeito de Teresina, Robert Rios (PSB), disse em entrevista a TV Clube que os estudantes da rede privada de ensino não devem mais ter direito a meia passagem de ônibus – direito este previsto desde 1998 pela lei municipal nº 2.650, assinada pelo ex-prefeito Firmino Filho.
“Quem pode pagar uma escola, tem escola de até R$11 mil, pode pagar também seu transporte”, alegou o gestor. Na ocasião, ele argumentava sobre a necessidade de prefeitura e governo do estado dividirem os custos da meia-passagem.
Em Teresina, a lei municipal garante o abatimento de 50% no preço da passagem de transportes coletivos urbanos e rurais para estudantes de 1º e 2º grau. A lei inclui também estudantes de pré-vestibular, supletivos e universitários matriculados em estabelecimentos de ensino da cidade – sem fazer distinção entre aqueles que estudam na rede pública ou privada.
Não é a primeira vez que uma declaração do vice-prefeito traz inconstância nos dados ou falsas equivalências. Tomando como base o valor atual da passagem inteira, 4 reais, o gasto mensal para quem pega duas conduções por dia totaliza em 120 reais. Se o cálculo considerar o deslocamento de estudantes que precisam ir da universidade ao estágio, por exemplo, e usam o transporte 4 vezes ou mais por dia, o gasto médio vai para 240. Para um estudante bolsista, que recebe auxílio de 400 reais, os gastos com condução comprometeriam 60% do orçamento.
De acordo com o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado do Piauí (SINEPE-PI), o preço das mensalidades de escolas particulares em Teresina pode variar de 200 a 2.500 reais. Mesmo as escolas com preços mais elevados na cidade não chegam ao valor citado por Robert Rios.
Segundo o Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Teresina (Setut), responsável pela administração do passe estudantil na capital, até o ano de 2020 havia, em Teresina, 59 mil estudantes com cadastro ativo.
A União Nacional dos Estudantes – PI divulgou uma nota informando que entrará com representação no Ministério Público. “Fomos surpreendidos com a notícia de que a meia passagem para os estudantes está em risco”, diz a nota destacando a luta histórica das entidades estudantis por transporte público de qualidade e pelo direito a meia passagem.
Nesta terça-feira (31), a prefeitura municipal alegou não ter procedência o anúncio de extinção da meia passagem. “A Prefeitura ainda estuda como deve ficar a operação do sistema de transporte público e deve adotar a melhor forma de atendimento para todas as partes envolvidas”, dizia nota postada nas redes sociais.
Caos no transporte público
A declaração infundada do vice-prefeito e secretário de finanças, Robert Rios, acontece em um dos momentos mais críticos da crise do transporte público municipal.
Após o relatório entregue pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que levou 105 dias, o prefeito Dr. Pessoa (MDB) anunciou intenção de municipalizar o sistema de transporte em um modelo híbrido de gestão – os custos com transporte público seriam divididos entre prefeitura, empresas que operam o sistema e governo do estado. O gestor não deu prazos nem detalhamento sobre a proposta.
Antes das eleições, a promessa de municipalização em 60 dias de mandato era uma das maiores bandeiras de campanha dos atuais gestores. A cidade, no entanto, completou um ano sem transporte regular no último mês.
0 comentário