O sistema de transporte público em Teresina continua a ser alvo de críticas entre os usuários. Com uma CPI em curso na Câmara Municipal, apurando possíveis irregularidades no serviço e entre paralisações e protestos de motoristas e cobradores, o imbróglio segue prejudicando aqueles que dependem da condução para ir e voltar, inclusive de zonas rurais.
Francisca Ribeiro, 48, acorda cedo todas as manhãs para começar o trabalho. Ela é agricultora e vive no povoado Alegria, zona rural ao sul de Teresina. Quando a demanda no trabalho é pouca ou há algo para resolver na cidade, ela deixa a horta e se prepara para o percurso. Sem transporte próprio, ela anda quase 1 km para chegar até o ponto de ônibus mais próximo – não há paradas em sua comunidade.
“Quando eu tô apressada peço alguém pra ir me deixar, se não, vou caminhando mesmo”, diz a agricultora. “Se for pra depender de ônibus, a gente passa o dia todo esperando. Coisa que a gente podia resolver em poucas horas”, continua Francisca.
Ela e a família possuem como alternativa de transporte apenas uma motocicleta, que todos compartilham: “Ficou difícil depender de ônibus”, comenta. “O pessoal de casa deixa algum compromisso, às vezes, para sair comigo, principalmente pro médico”.
Na zona rural, além da escassez de linhas, o transporte público acumula outros problemas: distância entre os pontos de parada e falta de opções circulando.
O plano diretor de transporte público de Teresina, de 2016, diz que as zonas de tráfego de ônibus são definidas pela Superintedência de Desenvolvimento Rural (SDR), a Strans e contou com uma consultoria da CERTARE, uma empresa voltada para sistemas de transporte, logística e mobilidade. Segundo esse plano, o trajeto feito pela circulação das linhas rurais foi calculado a partir de entrevistas com usuários do sistema de transporte em cada zona.
Em maio deste ano, a Superintendência de Transporte de Trânsito de Teresina (Strans) convocou uma reunião com empresários do transporte rural de Teresina para a atualização cadastral das empresas que operam o serviço. Na ocasião, foram descritas 23 empresas responsáveis por 38 ônibus que devem circular pela zona rural.
Segundo dados do último censo do IBGE, realizado em 2010, 46.673 formam a população do perímetro rural de Teresina. Idamara Galvão, 21, estudante, é uma delas.
Antes da pandemia, ela vivia entre o campo e a cidade, onde vinha para as aulas do seu curso de computação. As viagens dependiam de um ônibus alternativo que fazia linha até a sua comunidade, a Vila Galvão, zona Sudeste da capital.
Mesmo acontecendo só uma vez por dia, o trajeto era mais cômodo que a realidade imposta na pandemia – a linha deixou de circular e agora, a opção de ônibus mais próxima para a Idamara passa a 7 km de sua casa. “Tem sido complicado ir até a cidade. A gente tá sem ônibus”, diz a estudante.
No plano de governo da atual gestão de Teresina, entre as metas descritas, está a previsão de construção de dois terminais rodoviários que farão ligação entre o a zona rural e urbana, com o intuito de possibilitar um fluxo mais tranquilo para passageiros de ônibus.
O Estado do Piauí tentou contato com o gerente executivo de transporte rural da Strans, Josemar Junior, através da assessoria de imprensa, mas não obteve retorno. O espaço fica aberto para possíveis esclarecimentos.
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