Com a pandemia da Covid-19, aumentou a preocupação para saúde mental em todo o mundo. Isso porque, o isolamento social resultou em um aumento dos processos de adoecimento e suas consequências, principalmente ocasionadas por problemas econômicos, luto e temor pela infecção do novo coronavírus circulando.
Entre os anos de 2019 e 2020, Teresina registrou, no entanto, uma queda nos casos de suicídios. De acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidades (SIM) fornecidos pela Fundação Municipal de Saúde (FMS), os homens representam mais de 73% dos casos. Porém, na capital, as mulheres apresentaram as maiores tentativas de suicídio nos últimos dois anos, com índice de aumento em 2020.
De acordo com os dados levantados pelo Observatório Mulher Teresina, vinculado à Secretaria de Políticas Públicas Para Mulheres (SMPM), as mulheres vivenciam um processo de adoecimento mental maior do que homens devido aos padrões de gênero também presentes em seu cotidiano. Fatores relacionados à vivência afetivo-sexual, trabalho, maternidade, papéis de cuidadora, trabalho – remunerado e não remunerado -, representam uma sobrecarga nas atividades e vulnerabilidade econômica maior presente na vida das mulheres.
Um dos fatores levantados pela pesquisa que diferencia o número de óbitos entre homens e mulheres é o processo de adoecimento. De acordo com o estudo, socialmente o homem é visto como um provedor da família e da casa, no entanto, nem sempre há concretização dessa idealização – seja pela instabilidade econômica, desemprego e baixa remuneração – causando sofrimento. Esse problema, aliado aos métodos mais violentos usados pelos homens, é ainda o que mais provoca suicídio pelo gênero masculino.
Violência autoprovocada também é maior em mulheres
Diferente do suicídio e da tentativa, a violência autoprovocada ou autoinfligida é considerada uma agressão intencial ao próprio corpo, mas sem intenção consciente do suicídio. Além disso, há as violências interpessoais – na qual uma pessoa agride a outra -, onde as mulheres aparecem como as mais agredidas. Os registros desse tipo de violência em Teresina no período de um ano (2019 a 2020) também são expressivamente maiores entre o gênero feminino.
A pesquisa aponta que os dados são resultados de uma estimativa negativa do aumento de casos de violência doméstica e familiar – as mulheres estiveram confinadas com seus agressores durante boa parte de 2020, ano considerado o auge da pandemia. Outra preocupação levantada pelo estudo é a vivência em violência e o sofrimento, que pode levar a episódios de depressão, ansiedade e tentativa de suicídio.
De acordo com a Suzianne Santos, responsável pelo Observatório, uma forma de prevenir essas violências e o próprio suicídio é fortalecer as articulações de políticas voltadas para mulheres sobre uma perspectiva interseccional – uma abordagem que se preocupe com os diversos tipos de mulheres no recorte de raça, etnia e situação econômica. Quanto mais vulnerável estiver a vítima, maior é o risco de discriminações e violências. “Pensar a saúde mental também diz respeito a ter a garantia de alimentação, moradia, locomoção, renda, lazer – pontos já presentes como determinantes da saúde”, reforça.
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