quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Na mão dos indecisos

Meio ambiente, educação e renovação interessam jovens que ainda não decidiram em quem votar

26 de setembro de 2022

Karolina Oliveira saiu de Beneditinos, Norte do Piauí, para se tornar professora. Para viver em Teresina, precisou pular de estágio em estágio durante toda a graduação. A decisão de continuar no mestrado foi também uma escolha por continuar estudando. Ela é bolsista da Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – que custeia sua pesquisa sobre como os textos multimodais e imagéticos contribuem para despertar a leitura de estudantes. Aos 24 anos, quando não está se dedicando à pesquisa na pós-graduação, está dando aulas de redação em uma escola privada da capital.

A rotina corrida entre as salas de aula, como professora ou estudante,  é o que tem afastado Karolina do assunto principal da esfera pública nos últimos três meses: as eleições. Há menos de uma semana para ir à urna, a jovem não faz ideia de quem escolher para os cargos de governador, senador, tampouco deputado federal ou estadual. “Estou no campo dos indecisos”, assume à reportagem. Com pouco tempo para decidir seus candidatos, ela pretende escolher aqueles com que mais se identifica ideologicamente.

Mulheres formam a maior parte do perfil de indecisos, segundo as pesquisas nacionais. Para a corrida presidencial nunca houve, em uma reta final, tão poucos indecisos sobre o voto para presidente como neste ano. Os números têm oscilado entre 3% a 6%, segundo o Datafolha e Genial/Quaest, respectivamente. No Piauí, a tendência é parecida: quem ainda não escolheu seu voto para governador estadual ou deputados formam 8,65%, conforme pesquisa do Instituto Amostragem, 10% na última pesquisa do IPEC, e 12,80%, de acordo com o Instituto Opinar. 

Na última eleição para o governo, o Ibope (atual IPEC) identificou apenas 7% de indecisos. Pesquisas desse cunho, realizadas pelos outros institutos citados, não foram localizadas pela reportagem. 

O fenômeno da indecisão, segundo o cientista Vitor Sandes, é representado por aqueles eleitores que ainda não conseguiram estabelecer uma preferência em relação aos seus candidatos. Porém, esse “match”, no geral, costuma acontecer bem antes do pleito. Isso vale para candidatos mais conhecidos, explica Sandes. “Quando os candidatos são ‘novatos’, o período da campanha serve para que os eleitores conheçam as novas opções”, explica. É nesse período que podem haver mudanças nas preferências dos eleitores. 

Karolina Oliveira: “Estou no campo dos indecisos” (Foto: arquivo pessoal)

Entretanto, a tendência é que as mudanças sejam mínimas, tendo em vista o quantitativo pequeno que os “indecisos” formam durante as eleições. Esse perfil, de acordo com o cientista político, costuma decidir seu voto para os cargos proporcionais na véspera do pleito. 

A decisão é pautada em diversos motivos. No caso de uma disputa para o governo estadual, esse quantitativo costuma ser menor, o que indica que os eleitores têm se decidido sobre as candidaturas mais incisivas. Eles acabam escolhendo, sistematicamente, os candidatos com mais estrutura de campanha. No cenário piauiense, Sandes mira a possibilidade de voto dos indecisos para os candidatos Sílvio Mendes (União) e Rafael Fonteles (PT). Nessa reta final, cada movimento pode se tornar decisivo para conquistar essa parcela de eleitores. 

É o caso de Victor Nunes que, na primeira eleição para governador que participa, pretende votar em um candidato preocupado com causas ambientais, raciais e com foco nas desigualdades sociais. Desde os 16 anos, o jovem precisou arregaçar as mangas para driblar as dificuldades financeiras da família. Morando no extremo leste de Teresina, o salário-mínimo que ganhava como jovem aprendiz era destinado às despesas de casa e à faculdade. Nesta eleição, quanto mais o tempo passa, menos ele consegue cravar o voto para um político que possa lhe representar. “Para quem é negro e pobre jamais é dada a chance de adquirir quaisquer poderes”, afirma o estudante.

Victor Nunes vai votar pela primeira vez para governador (Foto: arquivo pessoal)

Assim como para Victor, essa indagação tem ganhado ainda mais relevância para um expressivo contingente de dois milhões de jovens, que vão votar pela primeira vez. Nove em cada dez acreditam que o voto é capaz de mudar suas realidades, de acordo com pesquisa da Unicef. Menos de 10% afirmam que não vão votar, destaca a pesquisa. Eles apostam principalmente em políticos ligados às causas ambientais, aos direitos humanos e na renovação das cadeiras políticas. Mesmo que esse tipo de debate avance entre a juventude, sem políticos que representem esses ideais, o fenômeno da indecisão fica à espreita das urnas entre essa parcela de eleitores. 

Nessa reta final, o cientista político Vitor Vazques acredita que o detalhamento das políticas não será o elemento-chave para convencer os indecisos. Porém, aquele que melhor utilizar seus atalhos informacionais sairá na frente. Ele explica: “Rafael utiliza o forte vínculo com Lula, enquanto Sílvio Mendes tenta driblar sua imagem a de qualquer presidenciável”, destaca Vazques. Até o dia do resultado final, são essas vinculações e desvinculações que devem fisgar o eleitorado menos decidido. 

Ana Medeiros vai votar pela primeira vez no Piauí (Foto: arquivo pessoal)

Enquanto isso, a carioca Ana Medeiros segue atenta aos participantes da disputa eleitoral. Ela mora no Piauí desde de 2020, quando o pai recebeu uma proposta de emprego e precisou trazer a família para cá. Com a mudança de estado, ela também precisou mudar seu título e pela primeira vez vai votar no Piauí. 

A recém-chegada, em breve, deve concluir a faculdade de pedagogia. Foi durante a graduação que estagiou em escolas públicas e privadas. É nesse ponto que ela pretende mirar para escolher um candidato. Se ela fosse governadora por um dia, gostaria de ver melhores prédios e condições prósperas para os educadores no Piauí. Na votação, ela quer escolher a dedo o candidato que melhor trilhar um plano para esse setor. São poucos os candidatos que ela conhece, mas mesmo assim não quer se abster do voto. Até o dia da eleição, Ana fará de tudo para sair da porcentagem de indecisos. “Não quero depositar um voto em branco, muito menos um voto em vão”, finaliza à reportagem. 

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