Em um mundo onde os avanços tecnológicos estão por toda parte, é impossível escapar da influência das tecnologias digitais. Como redes invisíveis, elas conectam pessoas e lugares, transformando a maneira como as pessoas se comunicam, se divertem e trabalham, tornando-se indispensáveis tanto no âmbito pessoal quanto profissional. Diante dessa realidade, o projeto NAU Digital, que tem o objetivo de democratizar o acesso à tecnologia digital para estudantes de escolas públicas no Piauí, retoma suas atividades em 2023 com novas turmas. As aulas iniciam nesta quinta-feira, dia 15.
Literacia digital
As tecnologias digitais permitem acesso a informações, conexão com pessoas ao redor do mundo, realização de transações financeiras, aquisição de conhecimento e muito mais. Adquirir competências tecnológicas é necessário para aproveitar ao máximo essas oportunidades e enfrentar os desafios de um mundo super conectado, e isso ocorre a partir da literacia digital.
A literacia digital é a capacidade de utilizar, compreender e avaliar criticamente as informações encontradas no ambiente digital. Trata-se de uma competência fundamental atualmente, especialmente para os mais jovens que crescem em um mundo cada vez mais conectado e dependente da tecnologia. A pesquisadora na área das juventudes e tecnologia, Ohana Lima, explica que a educação sobre as tecnologias digitais pode ampliar as chances dos jovens e contribuir para uma utilização saudável desses dispositivos. “As tecnologias digitais proporcionam uma ampliação de repertório, uma ampliação de possibilidades […] É importante a gente destacar que os processos de orientação de educação midiática são extremamente importantes para fortalecer a inserção dessa juventude nesses ambientes e, inclusive, orientar essas juventudes a uma utilização saudável que realmente contribua positivamente para suas vidas”, ressalta.
A literacia digital possibilita a participação ativa na sociedade digital, estimulando a criatividade, a colaboração e a resolução de problemas por meio de ferramentas e plataformas digitais, tornando-se um requisito imprescindível no mercado de trabalho. Ohana adverte que, para além do acesso às tecnologias, é necessário estimular o processo de educação sobre o uso responsável dos dispositivos digitais. “Não basta a gente inserir, fazer as tecnologias digitais estarem presentes, se a gente também não fortalece os processos de formação crítica, de leitura crítica da mídia, de educação midiática, para realmente dar um suporte para que esses jovens possam ser usuários seguros e conscientes das tecnologias digitais”, alerta.
A pesquisadora também destaca como a utilização consciente dessas tecnologias pode proporcionar aos jovens a oportunidade de se inserirem em realidades que anteriormente estavam fora de alcance. “Essas tecnologias contribuem na medida em que inserem os jovens em relações com outros territórios, com outros agrupamentos, oportunizando a eles possibilidades de estudo e de trabalho. Com as tecnologias digitais, os territórios que antes se limitavam ao espaço geográfico próprio da vivência de cada um passam então a ser ilimitados”, informa.
Dentre essas realidades, o mercado de trabalho é um dos setores que mais demanda profissionais com habilidades no área tecnológica. Segundo uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2021, constatou-se que 69% das indústrias brasileiras já adotam tecnologia digital em suas operações. Esses resultados refletem o aumento do interesse e investimento das indústrias brasileiras na transformação digital, visando melhorar sua competitividade e acompanhar as demandas em constante mudança do mercado. No entanto, a pesquisa também revelou que 25% dos gestores do setor industrial enfrentam obstáculos devido à falta de conhecimento técnico sobre essas tecnologias, o que os impede de investir em soluções digitais.
Desigualdade digital
A ausência desse conhecimento tem suas raízes fincadas na desigualdade existente entre as redes de ensino em relação à promoção da literacia digital, é o que aponta o estudo “Tecnologias Digitais nas escolas municipais do Brasil: cenário e recomendações”. Lançado em 2023 pelo CIEB, pela Fundação Telefônica Vivo e Undime, a pesquisa revela que pelo menos uma em cada cinco redes municipais do Brasil (21%) ainda não inclui o ensino de Tecnologia e Computação no currículo dos anos iniciais do Ensino Fundamental. No ensino médio, são 17% das escolas.
Pensando nessa realidade, o projeto Nau Digital, inaugurado em maio de 2022, oferece aulas focadas no estudo e aprimoramento da programação e informática. A iniciativa é uma parceria entre o The Hub, que é o primeiro hub de tecnologia e inovação implantado no Piauí, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), e a Digital Innovation One (DIO). A coordenadora de desenvolvimento de projetos da Nau Digital, Sacha Aguiar, explica que o projeto pretende capacitar os jovens para o aprendizado sobre tecnologias digitais. “O Nau Digital busca preencher a lacuna de profissionais de tecnologia no mercado de trabalho, oferecendo educação digital inclusiva aos jovens de baixa renda, principalmente nas escolas”, diz.
Em parceria com a Digital Innovation One (DIO), plataforma de ensino para desenvolvedores de software na América Latina, os alunos têm a oportunidade de participar de aulas online e expandir seus conhecimentos em diversas linguagens de programação. Duas escolas de Teresina já foram contempladas pelo projeto, o CETI Portal da Esperança, zona leste da capital, e o CETI Moacir Madeira Campos, localizado no bairro Saci, zona sul. Sacha explica que as aulas abordam tópicos mais avançados da informática, assim como os fundamentos da área. “No CETI Moacir Madeira Campos, oferecemos aulas de técnico básico, conhecido como “primeiros passos em tecnologia” ou “informática básica”. São aproximadamente quarenta horas de aulas, abordando desde como ligar um computador, até a digitalização e criação de arquivos. Também ministramos esse curso de primeiros passos em tecnologia para todos os alunos do Portal da Esperança, totalizando cerca de sessenta estudantes”, comenta.
Sem conexão
A ausência do ensino de Tecnologia e Computação no currículo das escolas municipais não é a única fonte de desigualdade digital no Brasil. A falta de acesso à conexão de internet também intensifica esse cenário. O país ainda está longe de garantir acesso universal à internet, com cerca de 28,2 milhões de pessoas acima de 10 anos fora do ambiente online. Dados do IBGE de 2021 revelam que 15,3% da população brasileira ainda não têm acesso à internet. Além disso, quando questionadas sobre as razões para não utilizarem a internet, surge outro dado preocupante: 42,2% dos entrevistados afirmaram não saber como acessar essa rede.
Iniciativas como o Nau Digital proporcionam aos jovens não apenas o acesso à internet, mas também dispositivos e conhecimentos essenciais para explorar a web e até mesmo criar seus próprios sites, permitindo que compartilhem suas experiências e realidades pessoais. Além disso, o programa oferece a oportunidade para que os estudantes progridam para turmas mais avançadas. No dia 15 de junho, próxima quinta-feira, terão início as novas turmas de 2023, nas quais os alunos poderão aprender novas linguagens de programação e abrir portas para oportunidades de trabalho, conforme destacado por Sacha. “Nossa expectativa é que mais alunos possam se formar na programação básica, criando seus primeiros sites. Os primeiros alunos que concluíram o curso de primeiros passos em programação irão avançar para novas linguagens de programação. Nosso objetivo é levar educação inclusiva, acesso e oportunidades para esses alunos, que muitas vezes não têm acesso aos conhecimentos básicos que oferecemos aqui no Hub, relacionados ao mercado, futuro tecnológico e oportunidades de trabalho”, relata.
À medida que os jovens desbravam os vastos horizontes digitais, a literacia digital se configura como o farol que os guia, capacitando-os para enfrentar as ondas do mundo moderno. A inclusão digital se transforma em uma realidade tangível, concedendo voz aos jovens e conduzindo-os a um futuro de oportunidades e descobertas. Nesse caminho, torna-se visível a importância de reduzir a exclusão digital, que marginaliza e priva tantos brasileiros das oportunidades do mundo virtual.
O ensino sobre informática e programação emerge como uma poderosa ferramenta de mudança, oferecendo às mentes curiosas a chave para se tornarem protagonistas de suas próprias jornadas ao adquirirem habilidades essenciais para explorar as chances de um futuro melhor. Assim, cada passo em direção ao conhecimento digital se torna um ato de libertação, permitindo que esses indivíduos encontrem seu espaço, ampliem suas perspectivas e sejam agentes de mudança em uma sociedade em constante transformação.
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