sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Ônibus voltam a circular em Teresina, mas usuários não sentem aumento da frota

Acordo entre prefeitura e empresários prevê parcelamento da dívida de 21 milhões; trabalhadores alegam que não foram ouvidos

11 de outubro de 2021

Nesta segunda-feira, 11, Teresina amanheceu com uma cena atípica: passageiros nos pontos à espera de ônibus coletivo. O acordo firmado entre a Prefeitura Municipal e os empresários de transporte urbano, que garantia quitação da dívida e ampliação da frota previa a volta da circulação dos ônibus a partir de hoje – mas para passageiros, motoristas e cobradores, ainda não houve motivo para comemorar.

O Setut informou que a frota de ônibus neste retorno teve um aumento de 40% – ou seja, cerca de 200 ônibus – até a semana passada, cerca de 140 ônibus circulavam na capital. “A frota será ampliada de forma gradativa após o pagamento firmado. O acordo previu o início do pagamento para que as empresas possam alocar mais carros e funcionários”, disse a consultora jurídica do Setut Naiara Moraes. Atualmente, o débito da prefeitura com o consórcio é de 21 milhões, a ser pago de forma parcelada até 2022.

Mesmo com o retorno dos ônibus às ruas, usuários do transporte público ainda reclamam da lotação e falta de qualidade. Jailson Nunes, morador do bairro Torquato Neto, precisa do transporte diariamente para ir e voltar ao trabalho – para ele, o aumento não foi o suficiente. “Hoje pela manhã os ônibus ainda continuavam lotados”, informou. “Vou analisar a volta do trabalho que, para mim, é o que causa mais transtorno”.

O usuário espera ainda que, após mais de um ano de espera, os ônibus possam também passar por uma revisão na estrutura. Segundo ele, durante o período de impasse e paralisações, os poucos veículos circulando apresentavam muitos problemas mecânicos. “Em uma semana cheguei a contar quatro vezes de ônibus da empresa Transcol no prego”, relatou.

O acordo também não surtiu efeito para os trabalhadores da categoria – motoristas e cobradores amanheceram em frente ao Ministério Público do Trabalho protestando por diálogo entre patrões e empregados: eles alegam que não foram ouvidos pelo Setut na firmação do acordo e desejam a assinatura de uma Convenção Coletiva, com o fim dos pagamentos em diárias e restabelecimento do piso salarial. 

Empresários e trabalhadores devem se reunir nesta terça, 12, para discutir soluções. Motoristas e cobradores ameaçam novas paralisações, caso não entrem em consenso. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores Em Empresas de Transportes Rodoviários (Sintetro), existem empresas em alguns dos consórcios que estão sem pagar os funcionários desde janeiro de 2021. 

 

18 meses sem ônibus regular

A crise no transporte público que já se arrastava na capital teresinense, teve seu ápice com a crise econômica gerada pela pandemia – sob o pretexto de tomar medidas mais rígidas de isolamento social, em março de 2020 a prefeitura reduziu a frota de coletivos. Os usuários não sabiam, mas o transporte público nunca mais voltaria a funcionar regularmente.

Pandemia, precarização e insalubridade dos trabalhadores rodoviários se somaram aos problemas e insatisfações dos usuários com o preço da passagem e o novo sistema de integração. Terminais construídos ficaram abandonados e serviram apenas como ponto de drive-thru na campanha de vacinação contra a Covid-19.

Só em 2021 aconteceram dez paralisações de trabalhadores rodoviários. Miguel Arcanjo, secretário de imprensa do SINTETRO-PI, em entrevista a Central Única dos Trabalhadores do Piauí (CUT-PI) afirmou que “os trabalhadores sofrem desde o início da pandemia” e que “o ano passado passou praticamente o ano inteiro sem ônibus e em 2021 não está sendo diferente”. 

O impasse entre trabalhadores, empresários e prefeitura se manteve por longo período sem negociações na justiça. Sem ônibus suficiente rodando, a população passou a gastar cerca de 30% do salário com transportes de aplicativo.

O ápice da crise do transporte público levou a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI do Transporte Público) na Câmara Municipal, em maio deste ano. Após mais de três meses no intuito de capturar as irregularidades do sistema, o relatório final da CPI recomendou a rescisão do contrato feito em 2015 com as empresas e a realização de uma nova licitação. A prefeitura, no entanto, não seguiu a recomendação. 

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