Teresina vai parar. Dessa vez, não falamos de ônibus, economia ou transporte. Estamos falando de cultura. Isso porque, a partir desta quarta-feira (20), a Parada de Cinema – Mostra de Cinema Contemporâneo Brasileiro que acontece há sete anos na capital – disponibilizará de forma online no seu site, por 10 dias, as obras selecionadas. Além disso, até sábado (23), haverá bate-papo sempre às 19h com os diretores dos filmes exibidos – a transmissão vai acontecer pelo Zoom.
O evento é a primeira mostra de cinema em Teresina após a pandemia da Covid-19. Em modelo híbrido, no sábado está previsto para acontecer a única sessão presencial, no Teatro João Paulo II. O documentário “Torquato, Imagem da Incompletude”, produzido pelos piauienses Guga Carvalho e Danilo Carvalho terá sua primeira apresentação em Teresina. O documentário traz uma reflexão sobre as obras e os pensamentos dos últimos anos da produção de Torquato Neto, como a Revista “Navilouca”, o filme “Terror da Vermelha”, a coluna “Geléia Geral” e a polêmica Cinema Novo X Marginal.
Dentro da programação, o filme “Hortelã”, de Ítalo Damasceno e Tiago Furtado, será um dos curtas exibidos. A obra nasceu após o encontro da dupla em Teresina. Apesar de casual, a cerveja entre amigos foi o um momento decisivo para rascunhar aquilo que daria base à “história de uma avó que não sabe que o neto gay namora com o filho da patroa”.
Com cenários que se passam entre Parnaíba e Teresina, “Hortelã” conta sobre o fim do relacionamento de Luís e Alexandre. Em meio ao sotaque piauiense e as identificações culturais que vão sendo desenvolvidas no filme, o curta também traz discussões sobre homofobia, relações de trabalho e parentesco – uma vez que a avó de Alexandre trabalha como doméstica na casa de Luís, no litoral do Piauí.
O filme já estreou em outros festivais, como Festival Guarnicê de Cinema, no Maranhão, e recentemente, foi selecionado para o Festival MixBrasil, que acontece em São Paulo – considerado uma das maiores mostras de Cultura LGBT.
Um retorno mais que esperado
Na obra de Guga e Danilo, Torquato Neto aparece em uma fase da sua vida muito mais ligado ao cinema do que à música. Guga ressalta que, apesar do documentário já ter circulado na televisão pelo Canal Curta, é a primeira vez que estreia em Teresina, berço do protagonista do filme. Para ele, a exibição na Parada de Cinema traz um importante significado para a cultura produzida na capital.
O diretor do documentário afirma que o retorno dos festivais reforça a importância de celebrar a cultura em Teresina, mas destaca a necessidade dos cuidados a serem tomados durante as mostras – além da importância da vacinação em massa para esse retorno mais que esperado.
O sentimento também é compartilhado por Ítalo. Para ele, curtas e documentários com temas regionais estão longe do grande foco comercial do audiovisual. “Se não são os festivais, ninguém nota a gente”, destaca o roteirista de Hortelã. “Festivais como esse, principalmente como a Parada de Cinema, estão sendo históricos porque estão sendo os primeiros após a pandemia e dos editais de estímulo à cultura audiovisual. É a hora de vermos o que a nossa gente produziu apesar de tanta dificuldade”, reforça.
Além disso, reforça o incentivo de diretores, roteiristas e atores piauienses. Segundo Ítalo, durante os festivais são quebrados estigmas sobre pessoas que vivem exclusivamente da cultura. “Quando o público conhece a gente, entendemos que há uma desmistificação da arte. Eles percebem como estamos longe da ‘Torre de Marfin’ criada pela sociedade. É um trabalho difícil e longe da valorização que merece”, finaliza.
Filmes selecionados para exibição na mostra:
- Acesso, Julia Leite, SP, 2020
- Álbum de família – Carta I, MIlena Rocha, PI, 2021
- A mãe de todas as lutas, Susanna Lira, RJ, 2021
- Carta à Pátria, Nelson Moura Fé, PI, 2020
- EntreElas I Ato, Débora Lopes, PI, 2021
- Fluído, Juhx, PI, 2021
- Hortelã, Thiago Furtado, PI, 2020
- O que conto por carta, Bibi Dória, SP, 2020
- Matéria noturna, Bernard Lessa, ES, 2021
- Netuna Parte I, João Eduardo, PE, 2020
- Praia dos Tempos, Luan Santos, BA, 2021.
- Prosopopeia, Andreia Pires, CE, 2021
- Suellen e a Diáspora Periférica, Renata Dorea, MG, 2020
- Torquato Imagem da Incompletude, Guga Carvalho e Danilo Carvalho, PI, 2020 (com sessão presencial)
- Urubá, Rodrigo Sena, RN, 2021
- Vai Melhorar, Pedro Fiuza, RN, 2020
- Visões de Copacabana – uma breve trilogia do acaso, Rita Brás, RJ, 2021
- Vagalume, Léo Bittencourt, RJ, 2021
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