O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – irá fazer o recenseamento da população quilombola e, pela primeira vez, vai permitir que essas comunidades possam se autoidentificar como quilombolas. No Piauí, o censo demográfico de 2022 iniciou o Dia de Mobilização do Censo Quilombola na última quarta-feira (17).
A data marca a apresentação do serviço que será feito nas comunidades quilombolas, para os líderes e representantes. A divulgação foi acordada com a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq).
A comunidade Mimbó, localizada na zona rural de Amarante (PI), foi escolhida para sediar o início da coleta de dados entre todas as comunidades do estado. O Mimbó surgiu em 1819 com a fuga de dois casais negros escravizados. Atualmente, vivem 600 habitantes que mantêm viva sua cultura e suas tradições. Os moradores carregam o sobrenome da família Paixão e são, em sua maioria, descendentes dos primeiros que chegaram por ali.
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O trabalho de mapeamento identificou 5.972 localidades quilombolas e 2.308 agrupamentos quilombolas no país – só no Piauí são 215 localidades quilombolas, incluindo territórios oficialmente delimitados ou não, em 73 municípios. Segundo o instituto, isso mostrará a realidade dos quilombolas, além de contabilizar quantos são, onde e como vivem.
Apesar dos pontos positivos que essa ação pode trazer, o morador do Mimbó, Ramon Paixão, comenta sobre a dificuldade que passaram para que isso finalmente ocorresse. “Para acontecer dessa forma, foi preciso uma luta promovida pela organização quilombola, e não porque o próprio IBGE quis”, destacou à reportagem.
Ramon também critica a ausência de perguntas mais específicas das situações que as comunidades quilombolas enfrentam, como a falta de documentação das terras em que muitos quilombolas vivem. “Acredito eu que se você não tem garantia de onde mora, você nunca se sente seguro”, comentou. A pesquisa, no entanto, será importante para mapear e identificar características dessas regiões. “Se nossas dificuldades forem vistas com um olhar sensibilizado dos governantes, se consegue desenvolver muitas políticas públicas efetivas para essa população”, enfatiza Ramon. 비트코인 배팅사이트
Para Karla Andrade, defensora pública atuante na causa dos quilombolas, o censo demográfico dessa população fará total diferença na luta por políticas públicas específicas para os povos tradicionais. “Isso servirá de subsídio para os pleitos, com números e dados concretos, que é a prova técnica exigida por aqueles gestores que não conhecem a nossa própria história”, afirmou.
De acordo com o IBGE, todos os recenseadores receberam treinamentos durante cinco dias com instruções sobre como lidar com as diversidades e mostrar para os quilombolas que a identidade e organização social deles serão respeitadas. Também obedecerão a protocolos de saúde como ausência de sintomas, uso de máscaras e álcool em gel.
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