Uma pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro revelou que o percentual de casos de depressão no país praticamente dobrou no último ano. Com o título: “A relação entre fatores comportamentais e psicossociais entre brasileiros em quarentena devido a covid-19”, o estudo do professor Alberto Filgueiras, do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), aponta ainda que os quadros de ansiedade e estresse tiveram um aumento de 80%.
A pesquisa consultou 1.460 pessoas, de 23 estados nas quatro regiões do país. Os participantes responderam a um questionamento online, no período de 20 a 25 de março e 15 a 20 de abril, de 2020.
Para especialistas, os resultados apontam questões futuras que a pandemia irá impor, no que diz respeito à saúde mental. “É um alerta para que agora comecemos a falar de saúde mental e desconstruir estigmas que a cercam, além de propor ações de cuidado e acolhimento para as pessoas”, diz a psicóloga Thaís Avelino.
As medidas restritivas e o novo contexto social, para ela, foram fatores desencadeadores de aflição para muitas pessoas. “De repente você não podia mais visitar pessoas que você ama, abraça-las, dar um aperto de mão ou um beijo no rosto”, comenta.
Felipe Silva* está concluindo a graduação. Ele mora com o marido, em um condomínio na zona leste. Com seu companheiro saindo toda manhã e sem a possibilidade do convívio na universidade com os amigos, começou a sentir-se só. A ansiedade levou a um quadro de crises de pânico.
As demandas da universidade e a pressão para arrumar um emprego em meio a um cenário de incertezas sobre o futuro. Ele pretende procurar por ajuda especializada. “Às vezes não consigo estudar ou fazer alguma atividade básica. Me sinto mal a ponto de querer passar o dia na cama”, revela.
Para Thaís, a assistência a saúde mental pública é fundamental: “É uma potente aliada no enfrentamento dos desafios que estão emergindo. O investimento em políticas públicas pode resguardar que essa assistência chegue até os grupos sociais a quem são direcionados”.
A psicóloga chama atenção para um hábito que poderá ser ampliado: a medicalização da sociedade – processo que transforma problemas de diferentes ordens em doenças, transtornos e distúrbios. “São reflexos do contexto que vivemos hoje”, observa a especialista. “Tratando questões muitas vezes sociais e culturais, através de curativos como a medicação ou culpabilização dos indivíduos, em uma perspectiva individualizante”.
*Nome alterado para preservar a identidade da fonte.
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