Em entrevista a um programa de TV, o vice-prefeito de Teresina, Robert Rios (PSB) afirmou que somente aqueles que se beneficiam da gratuidade da passagem de ônibus – como policiais, estudantes, idosos e pessoas com deficiência – estão reclamando do transporte público. “Quando você ouvir alguém reclamando de transporte coletivo de ônibus, pode ter certeza de que são pessoas que têm essa isenção do transporte”, disse em entrevista a um programa de TV local.
Robert Rios argumentou que, atualmente, o preço da passagem está tão elevado que motoristas de carros populares e vans estão concorrendo com o transporte público. “A passagem hoje está tão cara que quem compete com esses ônibus é um cara em um Gol, um cara em uma van”, afirmou, completando que “esses caras levam as pessoas aos bairros pelo mesmo valor da passagem”. Na sequência, concluiu: “Quem não consegue andar de graça nesses carros, chamados piratas, são as pessoas que têm isenção”.
Nas redes sociais, a fala de Robert Rios vem sendo alvo de críticas por internautas que repudiaram suas afirmações. “Impressionante como as pessoas mais incapacitadas são quem estão na gestão. Uma pessoa dessas tem interesse em melhorar a vida do cidadão que sobrevive com um salário que nem dá para sobreviver? Humilhante!”, citou um usuário da rede.
Em Teresina, idosos e pessoas com deficiência têm direito a passe livre, além de estudantes que pagam 1/3 da passagem e policiais que têm direito a gratuidade. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano (Setut), esse público representa 44% dos usuários do transporte público teresinense.
Contrariando a tese do vice-prefeito, a população tem demonstrado indignação com a situação caótica que a falta de ônibus tem gerado há meses na capital. Vitória Gomes, que reside em Timon e trabalha como auxiliar de serviços gerais na zona Leste de Teresina, fez um desabafo. “Cheguei a pensar em desistir do meu emprego”, afirmou. “Teve um mês que o meu salário foi gasto quase todo com pagamento de mototáxi e Uber, pois não tem ônibus e eu não queria deixar de vir trabalhar”, completou. “Estou vendo a possibilidade de contratar uma pessoa para me levar todos os dias ao trabalho, um contrato fixo, o que para mim vai sair bem mais caro, mas é a única saída”, analisou.
A jovem Roberta Tayna, que também trabalha na zona Leste da capital e reside em bairro da zona Sul, teve que adquirir uma moto para não deixar de ir ao trabalho. “Fiz uma dívida que nem está cabendo no meu orçamento neste momento, mas foi o único caminho que me restou, já que fiquei impossibilitada de ir trabalhar”, desabafou. “Já eram poucas as opções de ônibus e agora nenhuma. Minha renda ficou muito mais apertada, e por conta disso acabei atrasando o pagamento de outros compromissos”, revelou.
CPI se arrasta há um mês
Desde o dia 18 de maio, motoristas, cobradores, funcionários da prefeitura municipal e empresários do sistema de transporte estão sendo ouvidos na Câmara Municipal de Teresina. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte Público foi instaurada para apurar possíveis irregularidades no contrato de licitação entre o Sindicato das Empresas de Transporte Urbanos de Passageiros de Teresina (Setut) e a prefeitura da capital.
Os funcionários alegam atrasos em salários e redução de benefícios trabalhistas. Ajurí Dias, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano (SINTETRO), durante seu depoimento à Comissão da CPI, disse que as empresas que operam na esfera do serviço de transporte público da capital não pagam os serviços desde março de 2020.
Empresários atribuem o problema no transporte público ao déficit na arrecadação e à falta de subsídios da prefeitura, como também ao agravamento da crise na economia provocada pela pandemia da Covid-19.
Com duas sessões semanais, a CPI pode ser acompanhada no canal do youtube da Câmara Municipal de Teresina. Enquanto isso, os ônibus voltaram a circular com frota bastante reduzida. Os vereadores têm 120 dias para apresentar uma conclusão.
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