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Quem é a mulher que repudiou a presença de Ciro Nogueira em convenção do PDT

De miss Piauí a candidata da deputada federal, Amanda Costa desafiou as demais lideranças aos gritos, de “Fora Bolsonaro” na convenção do PDT

31 de julho de 2022
por Redação

Em uma época onde a expressão fake news ainda nem existia, inimigos de Leonel Brizola difundiram o boato de que ele teria se disfarçado em trajes femininos para escapar do Brasil, após o golpe de 1964. Somente em 2008, em um depoimento ao jornalista Geneton Moraes Neto, o piloto Manoel Leaes, que efetuou o resgate para levá-lo ao Uruguai, a bordo do Cessna 310, revelou que na fuga, o caudilho usava um uniforme da Brigada Militar do Rio Grande do Sul.

Vestindo o uniforme de soldado do Partido criado por Brizola e por ela adaptado a um conjunto de blazer e calça azuis, além de uma camiseta branca do PDT, a vice-presidente estadual do Piauí, Amanda Costa, desafiou as demais lideranças da agremiação e, aos gritos, de “Fora Bolsonaro”, manifestou repúdio à presença do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, na convenção que decidiu juntar-se a chapa de candidatos ao governo apoiada pelo líder do centrão no estado. “É de conhecimento que ele não é bem-vindo no Partido”, comenta a pedetista. Ela defende sua manifestação como de caráter pessoal, mas assegura que as tratativas que resultaram na decisão partidária de apoio à chapa liderada pelo ex-prefeito de Teresina, Silvio Mendes (União-BR), e pela deputada federal Iracema Portella (PP) só teriam acontecido porque “não havia associação com o bolsonarismo”, acredita. “Nos conformamos com o fato dele não apoiar Bolsonaro publicamente”, desabafa.

Pré-candidata a deputada federal, a líder do PDT afirma que o partido teve, como interesse principal, a formação de um palanque para o candidato pedetista à presidência, Ciro Gomes. “E ainda temos esperança de um acordo nacional para que o União Brasil apoie a candidatura de Ciro Gomes e, com isso, Mendes levantaria essa bandeira no Piauí”. Antes do acordo para apoiar a chapa bancada por Nogueira, ainda aconteceram negociações com o candidato Rafael Fonteles, que não avançaram por esbarrar na candidatura de Lula à presidência. “Mas somos contra Lula e Bolsonaro”, repete.

Em suas redes, Amanda criticou esta imagem: “Afronta!”

De fato, a campanha de Mendes-Portela, vice que também integra o centrão, tem evitado associação a fotos ou imagens de Bolsonaro nos eventos que realizam. O PP chegou a ajuizar uma ação junto ao Tribunal Regional Eleitoral acusando adversários de propagarem montagens utilizando imagens do Presidente da República. A situação piauiense tem ocorrido também em outros estados do Nordeste, onde líderes bolsonaristas, como Nogueira, se expõem em Brasília, ao lado do presidente que enfrenta baixos índices de popularidade, mas promovem o seu banimento nas campanhas das candidaturas que patrocinam.

Nas imagens que aparecem no vídeo da manifestação de repúdio, Nogueira e Mendes ignoram a liderança pedetista. O presidente do Partido, o vereador Evandro Hidd, parece desconfortável diante da cena e o candidato ao Senado, Joel Rodrigues, disfarça sem se aproximar. A maior parte da plateia vaia a manifestação de Costa e ela deixa a sala acompanhada de duas assessoras, retirando todo o material de campanha que estava exposto no local. “Recebi várias manifestações solidárias, inclusive nacionais, pelo meu ato”. Em uma das mensagens, às quais a coluna teve acesso, um pré-candidato comenta: “Ciro Nogueira é o cartão de visitas de Bolsonaro no Piauí. O que ele está fazendo aí?”, questiona no grupo de Whatsapp . Hidd segue defendendo que o acordo prioriza um eventual apoio à candidatura de Gomes no estado, mas sem garantias de que será cumprido. Após o princípio de tumulto, o chefe do centrão publicou em sua rede social um registro da presença dele ao lado de pedetistas.

 

Quem é Amanda Costa?

O episódio ocorrido na convenção do PDT jogou holofotes sobre Amanda Costa. Na rede social Twitter, internautas chegam a declarar votos à pré-candidata, embora aleguem não conhecê-la. O desconhecimento só revela a dificuldade de novas lideranças se firmarem fora do esquema de apadrinhamento. Doutora em Química pela (UFPI) Universidade Federal do Piauí, Costa tem uma história de vida que merece ser contada. Em 2007, eleita miss Piauí, ela foi alvo de uma publicação preconceituosa e racista ao ser comparada com “a copeira ideal de Jacarepaguá”. Convidada a participar de um programa local de TV, onde a apresentadora pediu que ela levasse alguns objetos que fizessem parte da sua vida, ela apareceu com a faixa do concurso que representava a beleza máxima da mulher piauiense, além do seu diploma de graduação. Na época, ela declarou que não se sentia ofendida por ter sido comparada a alguém que tem uma profissão. “Ao invés de sofrer, prefiro aprender com as experiências”, declarou.

Amanda Costa: retrato da dificuldade de novas lideranças se firmarem sem apadrinhamento.

Paralelo à vida acadêmica, veio o interesse pela política. Ela participou do movimento #EleNão, contra o ex-presidente Temer. Depois disso, fez MBA em Gestão Pública e especialização em Ciências Políticas. Dentro do partido, acumula a presidência da Fundação Leonel Brizola, responsável pela formação política e organização partidária. Sobre o seu futuro dentro do PDT, ela declara que segue em apoio a Mendes – que não a procurou até o momento – mas que, se o Partido não lhe garantir a candidatura, ela espera ser uma decisão que cumpra os estatutos pedetistas. “O Piauí precisa de alternância de poder e, no momento, Mendes representa isso”, pontuou. “Mas não espero muito dele”.

 

Por Cinthia Lages – jornalista, especialista em marketing político e mídias digitais, escritora e mestranda em ciências da comunicação.

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