A economia criativa é uma poderosa força transformadora no mundo atual. Ela envolve um conjunto de atividades e ações oriundas da cultura, tecnologia e criatividade. No Brasil, ela está em estado de crescimento, fortalecendo a geração de renda e empregos. Segundo um estudo realizado pelo Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, com base na PNAD Contínua, durante o primeiro trimestre de 2023 o setor da economia criativa criou mais de 123 mil postos de trabalho em comparação com o mesmo período do ano anterior, empregando cerca de 7.170,196 milhões de pessoas.
Esse setor engloba áreas como consumo, mídias, cultura e tecnologia, valorizando tanto a produção e distribuição de produtos quanto o uso da criatividade nessa criação. O estudo analisou três tipos de trabalhadores da economia criativa: especializados, de apoio e incorporados. Os especializados são trabalhadores criativos que estão empregados nos setores criativos, envolvidos diretamente na criação, produção ou disseminação de bens e serviços criativos. Os de apoio atuam nos setores criativos, mas suas ocupações não são criativas em si, desempenhando funções de suporte essenciais para esses setores. Por outro lado, os incorporados são trabalhadores criativos que atuam em outros setores não criativos da economia.
A pesquisa do Observatório do Itaú Cultural também aponta que, entre os dados relacionados ao primeiro trimestre de 2022 e de 2023, algumas categorias ocupacionais na economia criativa apresentaram crescimento, enquanto outras tiveram queda. Houve um aumento de 8% (59.494) nos postos de trabalho para os especializados da Cultura e um aumento de 17% (106.898) para os especializados da Tecnologia. As áreas que mais cresceram foram as de desenvolvimento de software e jogos digitais, design, serviços de TI e música. Por outro lado, as áreas de moda, artes visuais e museus tiveram uma redução no número de empregos. Essas variações podem ser atribuídas tanto aos impactos da pandemia quanto ao contexto econômico mais amplo.
O som em alta
Os dados do Observatório Itaú Cultural indicam que o setor de música apresentou uma forte recuperação, possivelmente impulsionada pelo retorno de festivais e eventos musicais no cenário pós-pandêmico. Isso aumentou a demanda por artistas, bandas e profissionais do ramo, gerando um impulso na atividade econômica relacionada a essa atividade artística. O vocalista da banda Corona Nimbus e dono de um estúdio de música em Teresina, Julio Barros, fala que o mercado musical, incluindo o setor de eventos, foi impactado por um boom pós-pandemia. “Percebemos nitidamente que, mesmo após anos da pandemia, muitos eventos e festivais grandes estão acontecendo. Após o período de pandemia surgiram em Teresina pelo menos quatro novos estúdios. Agora, em 2023, o segundo semestre está repleto de eventos de todos os segmentos, em todos os tamanhos e formatos possíveis”, conta.
Com a flexibilização das medidas, a demanda por eventos musicais tem sido intensa, com festivais, shows e apresentações ao vivo atraindo multidões ávidas para reviver a atmosfera vibrante e emocionante desses eventos. Julio ressalta como essa vontade de viver a cena cultural de perto impactou o setor. “Aquela situação de todo mundo isolado e restrito, na expectativa de que as coisas melhorassem, contribuiu com a vontade das pessoas de sair e se divertir, refletindo diretamente no nosso mercado”, relata.
Onde a criatividade habita
A indústria criativa faz morada para além do setor musical. No Piauí, um dos projetos que visam expandir e fomentar a economia criativa é o CazaMaker, uma startup focada na criação e colaboração, especialmente no setor de fabricação de produtos. Por meio dessa iniciativa, as pessoas têm a oportunidade de compartilhar e aprimorar suas ideias e projetos de tecnologia. O objetivo principal é incentivar a consciência e a inventividade das pessoas, para que coloquem a mão na massa e produzam os próprios produtos. O idealizador do CazaMaker, Joselé Martins, explica que a startup incentiva a formação de pessoas para a promoção de uma economia criativa. “A CazaMaker oferece cursos, oficinas e palestras que têm o objetivo de serem levados a associações, comunidades, grupos de amigos e também a espaços físicos onde as pessoas podem participar de cursos e oficinas de criatividade, aprendendo atividades que possam gerar renda”, conta.
Com foco em movimento, colaboração e criatividade, o projeto leva cursos de formação que incentivam jovens e adultos a criar uma variedade de produtos, como robôs, brinquedos educacionais, dispositivos de monitoramento e peças de computador. Além disso, o CazaMaker promove a conexão entre inventores, estimulando a troca de ideias e o trabalho colaborativo. Para Joselé, o objetivo da startup é proporcionar uma oportunidade para que as pessoas descubram o próprio potencial e transformem ideias em empreendimentos. O empresário fala que o CazaMaker funciona a partir de laboratórios móveis, sendo adaptáveis para diversos espaços. “O nosso diferencial são os cursos itinerantes. Foram desenvolvidos oito tipos de laboratórios, como o de prototipagem, modelagem, drone, podcast, entre outros. Os nossos laboratórios são móveis e a gente leva para qualquer lugar, seja comunidade, ambiente escolar ou faculdade em qualquer município”, diz.
Os cursos de habilidades manuais do CazaMaker, focados em costura, carpintaria e soldagem, também podem ser aproveitados por alunos do ensino médio. Para Joselé, ao incluir esses cursos no currículo escolar, os alunos têm a chance de expandir seus interesses enquanto desenvolvem habilidades essenciais, permitindo a oportunidade de trabalhar em projetos de fabricação que não seriam possíveis em um ambiente de sala de aula tradicional. “A gente leva os projetos, os nossos laboratórios móveis para dentro das escolas, e quando esses meninos fazem curso de modelagem, prototipagem, podcast, eles mesmos vão produzir produtos que são do interesse deles. Eles acabam se descobrindo e podem virar um empreendimento futuro na vida desses jovens”, informa.
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