O processo de verticalização das cidades vem tornando-as cada vez mais cinzas – um espaço urbano de concreto e sem cor. Pensando em formas criativas de ressignificar espaços e arquiteturas através da arte, o Festival Retalhos começou em Teresina no último mês de outubro e deve durar até janeiro de 2022.
“É uma forma de construir um novo olhar na cidade”, explica a produtora Erica Santos. As atividades – intervenções e grafite – acontecem em dez pontos na cidade com um mesmo objetivo: interferir na rotina das pessoas através da arte.
Da janela do carro, quando vai para o trabalho, Gleyciane Viana já nota a diferença na paisagem. Os grandes murais, para ela, não passam despercebidos. No movimento cotidiano, as cores dos painéis surgem para trazer cor à cidade e possibilita que a rua seja um espaço possível para a arte. “Essa transformação vem mudando a cidade”, analisa a estudante de psicologia. “É uma forma de arte que possibilita que pessoas que nunca puderam ir a um museu ou exposição possam ser incluídas nesses espaços de arte”, conta Gleyciane.
Um dos murais está localizado no muro no cruzamento da Rua Coelho Rodrigues com a Rua Doutor Arêa Leão, em frente às principais paradas de ônibus da Praça Demóstenes Avelino – a Praça do Fripisa. O local está no trajeto de muitos estudantes e moradores da zona Norte e Sul – onde se concentra a maior parte da população negra da capital. De lá, as pessoas seguem para outras zonas ou para a cidade de Timon, no Maranhão, e agora contam com um muralismo que retrata a infância negra.
A artista Aline Guimarães (@lineaaaa_) conta que foi sua primeira experiência em uma produção de grandes proporções. A intenção era falar sobre futuro e passado, através do seu desenho. A praça do Fripisa, concentra há mais de dez anos a Feira de Livros Usado do Piauí, e tem em seu entorno a Biblioteca Pública Estadual Desembargador Cromwell de Carvalho – ou seja, faz parte da história com a educação. Segundo Aline, falar sobre o tema envolvendo pessoas negras é fortalecer a memória e cultura dessas comunidades.
“Parte da minha vida foi passando por aquele lugar e agora tem uma arte minha por lá, com a temática que me atravessou e atravessa outras pessoas”, conta Aline. “É uma forma de fomentar os elementos da nossa educação, como nossas crianças são educadas e nossa história é contada”, complementa a artista.
O Festival Retalho, de arte urbana, ainda segue até o ano que vem – mas os murais já começam a dar uma cara nova a cidade, formando um grande museu a céu aberto. Acompanhe pelo instagram.
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