Neste ano, o Salão do Livro do Piauí (SaLiPi) chega a sua 20° edição como um dos maiores eventos literários do Nordeste, segundo o próprio site do evento. Anualmente, a proposta da atividade é mesclar literatura, música e artesanato no Piauí. Mas, se por um lado o evento traz a ideia da literatura como ponte para a diversidade, a programação tem, a cada ano, uma presença pequena de autores negros, LGBTQIA+, mulheres e indígenas. Em 20 edições apenas três delas tiveram escritoras como homenageadas.
Na programação do Seminário Língua Viva, que acontece na programação do Salão, um dos nomes chamou atenção e causou revolta nas redes sociais. O debate “O papel da mulher nos clássicos da literatura”, seria ministrado pelo pelo ex-juiz e professor de direito Penal Samir Agi, que ganhou notoriedade escrevendo crônicas em sua página pessoal na internet. Em seu currículo profissional, entretanto, não há indícios de pesquisa na área citada pela palestra, tampouco suas produções versam sobre a participação feminina na literatura.
A organização do Salipi informou ao oestadodopiaui.com que o tema foi fornecido pelo palestrante Samer para o evento e destacou que haverá painéis compostos apenas por mulheres. “O SaLiPi sempre convidou grandes mulheres como Djamila Ribeiro, Joyce Berth e esse ano encaminhamos convite para Conceição Evaristo, mas não tivemos retorno”, explica Kássio Gomes, presidente da Fundação Quixote e organizador do SaLiPi. Entretanto, a reportagem verificou mais de 60% da programação deste ano será apresentada por homens.
A assessoria de Samer informou que o tema da palestra será alterado e divulgado até o final da tarde desta segunda-feira (23).
Para a escritora e mediadora de clubes de leitura, Dani Marques, a ausência de diversidade de gênero e racial no SaLiPi já tem sido sentida há um tempo. O SaLiPi, que para ela é o evento carro-chefe de literatura do Piauí, tem mantido um perfil de escritores através das suas edições: homens, brancos, cis e do eixo Sul e Sudeste. “Entendo que hoje vivemos em uma era digital, onde pessoas com visibilidade na internet provocam maior engajamento no evento, mas aqui há escritoras e escritores que fazem a cena literária do estado”, pontua Dani. “Há pessoas capacitadas para falar de mulher na literatura, há mulheres falando e pesquisando sobre o assunto aqui”, complementa.
A falta de representatividade no evento tem feito surgir novas iniciativas para contemplar outros segmentos de pessoas fazendo literatura no Piauí. Na contramão, será realizado o I Salão de Letras da Mulher, entre os dias 24 e 27 de maio, no Complexo do Clube dos Diários. O evento foi produzido e apresentado, exclusivamente por mulheres, da cena literária e do mercado editorial.
Além deste, está previsto para o dia 28 de maio, no Clube dos Diários, a I Feira do Livro da Diversidade (Flid). O evento surge como uma ação para dar visibilidade à temática LGBTQI+ e fomentar a discussão da comunidade dentro da literatura. “Sabe-se que, nesse país em retrocesso, sem um incentivo a essas resistências culturais, esses segmentos sociais podem minguar dentro da necropolítica que vivenciamos”, diz o site do evento.
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