O acervo da Casa da Cultura de Teresina está sendo remanejado para outros locais. Sem atividades desde o agravamento da pandemia da Covid-19 e acumulando problemas em sua estrutura e instalações elétricas, uma das mais importantes sedes de arte e cultura da cidade corre o risco de permanecer fechada.
Além da necessidade de reforma, o prédio pertence à Arquidiocese de Teresina e encerra este mês o contrato de aluguel com a Prefeitura Municipal de Teresina (PMT). Com isso, o local deve permanecer sem reparos e fechado por tempo indeterminado.
A Casa da Cultura de Teresina foi inaugurada no dia 12 de agosto de 1994 e é um dos patrimônios culturais da cidade. O espaço foi tombado em 1986 pelo Departamento do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Piauí. O fato de ser um prédio histórico e alugado limita e dificulta as possibilidades de reparos.
“A reforma é uma vontade do movimento cultural, da prefeitura, mas depende de recursos externos, já que esta não é uma obra simples”, apontou Scheyvan Lima, presidente da Fundação Monsenhor Chaves (FMC). Ele afirma que a gestão segue em busca de recursos para manter a parceria com a Arquidiocese. “O prédio é bem antigo, não tem acessibilidade, além de ser tombado”, completou, alegando fatores que complicam a busca por esses recursos. “Nós dependemos também da vontade da igreja em querer tudo isso, se não, arrumamos as malas e vamos para outro lugar”.
Por outro lado, o presidente do Conselho Municipal de Política Cultural de Teresina, João Henrique, afirmou que a Casa da Cultura encontra-se em uma situação bastante crítica. “Está fechada, sem energia, correndo riscos, com acervo mal acondicionado”, contou. “Tratamos disso ontem na reunião do Conselho com a participação do Ministério Público, inclusive temos muitas questões a serem denunciadas”.
Acervo está sendo remanejado
Enquanto a Casa da Cultura está interditada e as questões sobre a sua reforma e a permanência da parceria são discutidas, o acervo deve ser transferido provisoriamente para outros espaços culturais. A Casa da Dona Carlotinha, na Praça João Luís Ferreira, centro, está sendo um dos pontos alugados para receber parte das coleções.
Já o material de arte sacra deve ser levado para o Museu Dom Libório, localizado na Rua Olavo Bilac, e o Balé da Cidade, que tem o local como sede da Cia, terá o retorno de suas atividades encaminhado para o Teatro João Paulo II, no bairro Dirceu.
Ataques à cultura
Apesar da alegação da FMC de que as atividades da Casa continuam funcionando ainda que remanejadas para outros locais, gestores e agentes culturais seguem críticos aos sucessivos ataques à cultura somente no primeiro semestre da nova gestão municipal.
João Henrique Vieira aponta para a falta de um plano de trabalho referente ao ano de 2021. “Estamos passando da metade do ano e, até agora, a Fundação não apresentou nada”, criticou. “Vamos acabar o ano sem saber quais as ações, os recursos e o trabalho organizado e estruturado para a cultura na nossa cidade?”.
Além de não apresentar novas propostas de trabalho, mais de uma vez a gestão atual ameaçou descontinuar projetos em curso, mantidos pelo aparelho municipal – no início de maio, por exemplo, o vice-prefeito e também secretário de finanças da cidade, Robert Rios, disparou comentários que questionavam um suposto superfaturamento das Organizações Sociais que coordenam projetos como a Orquestra Sinfônica e o Balé da Cidade. “Durante muitos anos a cultura de Teresina foi explorada por entidades privadas que ficavam com grande parte dos recursos, deixando os artistas com a menor parte”, disse em suas redes sociais.
Para João Henrique, olhar para as políticas culturais da cidade de forma séria, organizada e comprometida, deve ser uma missão de todos. “Apenas ações isoladas não resolvem, temos que questionar como nossos espaços culturais estão sendo geridos”, criticou. “Temos que olhar para a juventude que se perde por falta de oportunidades, fomentar a produção e produtores culturais que se viram mesmo sem estrutura”, complementa.
0 comentário