Em junho de 2006, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançava, durante uma cerimônia em Missão Velha (CE), a Nova Transnordestina. A construção de uma ferrovia que iria interligar pólos produtores no interior aos portos das capitais Recife e Fortaleza parecia um sonho de progresso.
Com extensão total de 1.753 quilômetros, a ferrovia foi projetada para ligar o Porto de Pecém, no Ceará, ao Porto de Suape, em Pernambuco, além do cerrado do Piauí, no município de Eliseu Martins. A previsão era que em 2010 os trens estivessem nos trilhos, com investimento estimado, à época, em 4,5 bilhões de reais. Depois de uma década e 7 bilhões investidos, a Transnordestina ainda segue sem prazo para sua conclusão.
Desde que foi lançado, o projeto sofreu inúmeras interrupções. Ao mesmo tempo, o orçamento mais do que dobrou para a conclusão da obra, outro montante equivalente a esse precisaria ser gasto.
No início das obras, a ferrovia passou a representar um sonho para os produtores atuantes no cerrado: com ela em operação, seria possível um transporte mais eficaz de soja, milho, frutas e minérios produzidos nos cerrados e no sul do Piauí. Países Europa e países como China e Estados Unidos poderiam ser compradores. Mesmo retomada em 2019, por determinação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a construção ainda arrasta-se sem previsão de conclusão.
Nos últimos dias o projeto voltou a ser tema de discussão, com anúncio do governo federal de levar à frente a construção de apenas um dos dois trechos da ferrovia – o que liga o interior do Piauí, em Elizeu Martins, até o porto de Pecém, no Ceará. A informação foi confirmada pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, anunciando que, por enquanto, ainda não há viabilidade econômica para fazer a conexão da ferrovia até Porto de Suape, em Pernambuco.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Piauí (Aprosoja-PI), Alzir Pimentel Neto, em visita recente ao Polo Empresarial da Ferrovia Nova Transnordestina, comentou sobre a importância da mesma para o fortalecimento da produção agrícola da região. “A Ferrovia Transnordestina é de grande importância para a produção de grãos no sul do Piauí”, disse na ocasião. “É importante que tenhamos cada vez mais infraestruturas e investimentos que agreguem valor ao trabalho do produtor do cerrado e ajudem no escoamento da nossa produção. Com isso, novos investimentos também serão atraídos para o estado”, destacou.
Em entrevista à imprensa, o mestre em engenharia de produção pela Universidade Federal de Pernambuco, Marcílio Cunha afirmou que terminar a obra é imprescindível para parte do Nordeste. “Hoje, 90% do que é transportado na região andam por meio rodoviário, o que é muito mais caro”, avaliou. “Um vagão de trem transporta até 100 toneladas. Por baixo isso representa 4 carretas carregadas”.
Projeto precisa ter mais bases econômicas, diz ministro
Durante live transmitida pelo site Valor Econômico, o ministro Tarcísio Gomes explicou que o projeto precisa ter as bases econômicas redefinidas. “É um contrato que, em função de ter uma quantidade grande de obra enterrada, precisa ser redesenhado”, observou. “O que dedicamos a fazer, até agora, foi esse redesenho, apertar a tecla ‘reset‘”, afirmou. Ele também disse que a alternativa de relicitar a ferrovia para escolher um novo investidor não está nos planos do governo.
O ministro reafirmou o interesse do governo federal em retomar a obra. “Estamos reavaliando a concessão e agilizando os trâmites burocráticos junto à Valec”, disse na live. “A Transnordestina trará muitos benefícios quando concluída, pois vai alavancar o escoamento da produção da região, aumentar a competitividade agrícola, possibilitar a redução nos custos de transportes dos produtos dos polos industriais, minerais e de agronegócios existentes na região”, finalizou.
A ferrovia pertence à Transnordestina Logística S.A., uma subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Embora seja privada, a obra recebeu majoritariamente recursos públicos. O governo também avalia a possibilidade de cassar o contrato de concessão da Transnordestina – declarando caducidade – caso haja alguma desconformidade no cumprimento das obrigações acordadas, em prejuízo ao interesse público.
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